quinta-feira, 19 de novembro de 2009

"(500) Dias com ela" - um filme pra quem já se apaixonou

Há um gênero de filme que faz muito sucesso hoje em dia, principalmente entre o público feminino, chamado "comédia romãntica". Um amigo meu os chama ironicamente de "Filmes Meg Ryan", em referência à rainha deste estilo de filme, nos anos 80 e 90 - quem não lembra de "Harry e Sally" ou "Mensagem pra você"? As comédias romãnticas são um gênero que obedece a algumas regras. Seus roteiros seguem, com poucas variações, o mesmo esquema: temos uma mocinha (ou mocinho) solitária (o) que (1) conhece o grande amor de sua vida meio que por acaso; eles se apaixonarão (2); algo imprevisto (um vilão ciumento, uma amiga invejosa, um desencontro qualquer) os fará com que rompam o namoro (3); por fim, eles compreendem que se amam, que não podem viver separados, reatam e...the end: fim do filme (4). Apesar da previsibilidade, o gênero continua arrastando multidões de casais aos cinemas.

Se você correr aos cinemas, verá um filme em cartaz que, a princípio, poderia ser confundido com o estilo. Olhe nas sinopses dos jornais e estará escrito: "comédia romântica". Mas "(500) Dias com ela" (do inglês "(500) Days of Summer") vai além do gênero, constituindo uma das mais agradáveis supresas desta primavera cinematográfica. Quais os motivos? Talvez por apresentar personagens não estereotipados. Talvez por sua estrutura de mostrar os dias de forma aleatória, onde passado, presente e futuro se juntam. Ou então pela frase do narrador logo ao começo: "Acredite, esta não é uma história romântica". Pois bem: fique com a primeira opção. "(5oo) dias com ela" é um filme que apresenta personagens reais, que amam, sofrem, choram e se divertem. É um filme pra quem já se apaixonou e, principalmente, pra quem já sofreu por amor.




"(500) dias com ela" já começa subvertendo certo senso comum e clichê cinematográfico. Ouvimos dizer sempre que mulheres se apaixonam fácil, e homens não querem compromisso. No entanto, é a garota, Summer (Zooey Deschanel) que, apesar de interessada no rapaz, Tom (Joseph Gordon-Levitt) não quer saber de compromisso. Logo no início ficamos sabemos que aquele casal vai namorar - e também que eles não acabarão juntos. Mas a engenhosidade do roteiro nos convida a conhecer aquele princípio, meio e fim de um romance - os tais quinhentos dias juntos.

Ainda no início, temos a sequência em que Tom leva um fora de Summer. Arrasado, ele tenta relembrar momentos do namoro, para entender o que teria levado a não dar certo. As sequências dos dias de namoro entre o casal são mostradas de forma fragmentada, em cenas nas quais o número do dia de namoro - 57, 102, 244 etc - vão aparecendo na tela.

Tom não é o narrador. Há outro, uma voz em off que aparece pouquíssimo, mas faz comentários cruciais para a trama, ainda que irônicos. Desde o dia em que conhece Summer (verão, em inglês, uma menina com nome de estação do ano) Tom, que trabalha num escritório especializado em criar mensagens de cartões de presente, se interessa por ela. Mas a paixão só surge mesmo, avassaladora, dentro de um elevador, quando, Tom está distraído escutando uma música ao fone de ouvido e Summer, ao escutar aquele som, puxa conversa e pergunta se ele gosta de Smiths. Ele, surpreso, diz que sim. "Eu adoro essa música", diz Summer, e cantarola um trecho para o pobre rapaz se apaixonar de vez: "to die by your side is such a heavenly way to die"...

"Morrer ao seu lado seria um jeito divino de morrer", da belíssima canção "There's a light that never goes out". A sublime ironia desta cena logo se mostrará adiante, quando o casal começar a se envolver e Summer começar a esbofetear metaforicamente Tom com frases como "histórias de amor são fantasia", "amores não duram para sempre", "eu não quero que nosso caso seja sério". O interessante aqui é que Summer, mesmo "não querendo nada sério", gosta de verdade de Tom, a ponto de namorá-lo, mas sempre mantendo uma certa distância da paixão. Situação que leva Tom a espasmos de suprema felicidade, entrecortados com momentos de depressão profunda, nas muitas brigas que terá com Summer.

Ora, quem nunca imaginou a mesma coisa a respetido do ser amado? Quem nunca pensou "será que ela gosta de mim do mesmo jeito que eu a amo?". É isso que torna o filme brilhante em vários momentos. Às vezes "500 dias com ela" toma partido de Tom e sofremos junto com ele. Noutras, os homens são mostrados como imaturos e sem a menor noção de como conquistar uma mulher. Alguns dos melhores momentos de humor do filme está no contraste entre os dois melhores amigos de Tom - ambos totalmente ingênuos e imaturos em matéria de amor - e a pequena Rachel (Chloe Moretz), adolescente e grande amiga de Tom, que passa o filme lhe dando os conselhos mais sensatos sobre amor e paixão.

Uma das melhores cenas - e pra mim o melhor momento do filme - está na sequência em que, algum tempo depois de mais uma separação, Summer encontra Tom e o convida para uma recepção em seu apartamento novo. Claro que o apaixonado Tom se animará bastante com a hipótese de uma reconciliação. Com a chegada de Tom ao prédio de Summer, a tela se divide em duas e temos, de um lado, sob o título "expectativa", o que Tom esperava que acontecesse, ou seja, Summer passando a noite com ele. No outro quadro, sob o título "realidade", vemos o que realmente acontece: Summer o trata apenas como mais um amigo e um dos muitos convidados de sua festa. Tom não suporta a "realidade" e vai embora, arrasado.

São momentos como este, criativos, bem escritos, inesperados (ou nem tanto, para quem já viveu algo parecido, e não são poucas pessoas, tenham certeza) que tornam "(500) dias com ela" um filme que merece ser conferido. Por trazer às telas momentos de uma história de amor genuína, o brotar de uma paixão real, sem apelações nem apelos a chavões para ganhar o público. Somos conquistados por se identificarmo-nos em algum momento com aqueles dois personagens comuns, que por 500 dias estiveram envolvidos numa história de amor que poderia acontecer com qualquer de um de nós.

Ao final do filme, já ciente de que aquele romance não tem mais volta, o ainda apaixonado Tom recebe mais um dos sábios conselhos de Rachel:"Lembre-se também dos momentos ruins que passou com ela". Este apelo à razão (sentimento que detonamos quando apaixonados), junto com uma reviravolta profisional na vida de Tom, o fará crer que, apesar de tudo, aida está vivo e que uma nova paixão pode estar mais próxima do que ele imagina.

Depois daqueles 500 dias tormentosos, uma nova estação se inicia.

Um comentário:

Anônimo disse...

amei o filme! adorei a história e a interpretação de Joseph Gordon-Levitt foi impecável! com certeza esse filme vai muito além de uma simples comédia romântica... aconselho!