sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
Cinema (na favela) é a maior diversão!
Para quem achava que o cinema tinha virado um entretenimento definitivamente elitizado, confinado em shoppings e com preços proibitivos, a presença de público num cinema recém-inaugurado no Rio parece demonstrar o contrário. Leio em matéria do Globo desta semana sobre o sucesso do Cinecarioca Nova Brasília, com 85% de presença de público desde sua inauguração, em 24 de dezembro. Sim, meus caros, 85% - quando a média nacional de público pagante nos cinema brasileiros não passa de 40%. Só pra lembrar: o Cinecarioca fica dentro da favela Nova Brasília, em pleno Complexo do Alemão.
A inauguração do cinema, ainda no fim do ano passado, quase um mês depois da invasão do Complexo pela polícia e as Forças Armadas, que pacificaram a região antes tomada pelo tráfico, é uma conquista altamente simbólica. Trata-se do primeiro cinema em 3D dentro de uma favela no Brasil. Algo que, obviamente, merece ser comemorado. Não basta somente "pacificar" uma região antes estigmatizada pelo domínio de traficantes e por muito tempo abandonada pelo poder público. Há que se criar uma atmosfera de trabalho e oportunidades, para que as pessoas dali possam se sentir plenamente integradas, para que todos se sintam cidadãos da cidade. Como cantaram os Titãs, eles não querem só comida, mas também diversão e arte.
No entanto, parece que nem todos curtiram a ideia de um cinema em 3D em plena favela - e com preço de 8 reais (4 reais para o morador da favela!). Notícias do começo do ano deram conta de que o cinema foi parcialmente apedrejado há duas semanas atrás (suspeita-se que teriam sido ordens de traficantes ainda escondidos na região). Os responsáveis pelo cinema logo repuseram os vidros quebrados e as sessões continuaram sem problemas. Foi apenas um susto.
Mais que o batido slogan de "a melhor diversão", o Cinecarioca Nova Brasília tem servido para estimular uma espécio de auto-estima cultural nos moradores do entorno. Segundo a matéria do Globo, mais de 90% dos novos frequentadores nunca haviam ido ao cinema. O contato dos moradores da região - e, que fique bem claro, não só na favela, mas em todo o subúrbio e periferia do Rio de Janeiro - com os lançamentos cinematográficos era em grande parte feito em aluguéis de DVDs ou em compras de cópias piratas em barraquinhas de camelôs. A promessa do governo de criar novas salas em outras favelas (a próxima deve ser a de Manguinhos), longe de constituir uma atitude eleitoreira e oportunista, é uma saída bem bolada para se constuituir um novo público de cinema. Um público que, ao descobrir o prazer que é ver um filme dentro de uma tela de cinema de verdade, tenderá a abandonar os filmes comprados em camelôs.
Ora, quem gosta de cinema de verdade sabe que a chamada "fruição cinematográfica" - ou seja, todo aquele ritual de ir ver um filme no cinema, desde a escolha da roupa que irá, a condução até o local, a compra dos bilhetes, a entrada na sala ainda acesa, o apagar das luzes, os trailers, o tão esperado filme na tela grande (algo que nem o blu-ray mais moderno ainda é capaz de superar) - é um dos grandes baratos do cinema. Sem contar dos inúmeros casais que começaram a namorar dentro de uma sala de cinema.
Apesar de eu não ser um grande entusiasta do 3D, sei o fascínio que causa em muita gente, principalmente em crianças. Semana passada, numa sessão de "Enrolados", a que estive com meu filho, deu pra ver o prazer que meu filho sentia em tentar alcançar as lanternas iluminadas lançadas ao céu pelo pai da personagem principal, numa das mais bonitas cenas do filme. Com a ajuda da técnica, as lanternas pareciam estar na nossa frente.
Arte, técnica e cultura para o povo. Vida longa ao Cinecarioca Nova Brasília. E que venham outros!
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