terça-feira, 14 de abril de 2015

Brasil: ame-o ou deixe-o (ou "O país do jeitinho")

Aconteceu na semana passada. Ou foi na retrasada? Na verdade situações como a que vou relatar acontecem, infelizmente, todos os dias no Brasil. E mostram um pouco desta realidade em que vivemos.

Tratava-se de um jogo de futebol. Norte do Brasil. Campeonato Amazonense. Nacional Borbense X Iranduba. No final da partida, o goleiro do Borbense é atingido e cai em campo, desacordado, O jogo é paralisado. Chamam a ambulância.

O motorista estava dormindo.

Acordam o homem. O corpo do jogador inerte é colocado no veículo. O motorista tenta dar a partida. A ambulância está enguiçada. Jogadores dos dois times mais comissões técnicas se mobilizam para dar um "tranco" no veículo.

A ambulância não pega. Nem no tranco.

A polícia é acionada. Confusão geral. Radialistas narram o incidente. Felizmente, a viatura policial está funcionando.

O jogador desacordado segue para o hospital no carro de polícia. Ou melhor, na caçamba do carro de polícia. Ele passa bem.

Situações como essa deveriam ser raras. Mas não é o caso em nosso país.  Na página do Google onde encontrei o link deste caso há outros similares.

Soube do caso ao ver a matéria no Globo Esporte. Fico imaginando o escândalo que seria se o problema tivesse acontecido numa partida de transmissão nacional. A imprensa faria vários artigos sobre a situação "revoltante" dos campeonatos e da falta de infraestrutura em estádios superfaturados para a Copa do Mundo. Políticos tentariam aparecer sugerindo novas leis para os campeonatos. Dirigentes de federações dariam entrevistas se dizendo "indignados" e que seriam tomadas providências incisivas para melhorar o atendimento em casos como o ocorrido.

Até que outro campeonato venha, outro clássico regional seja jogado e o episódio esquecido. Apenas para outro acontecer em outra localidade deste país continental e desigual.

Enquanto isso, os campeonatos não podem parar: afinal, o futebol é a paixão nacional! E em casos como esse, pode-se sempre dar um jeitinho, não é mesmo?  Nem que seja carregar um jogador passando mal na caçamba de uma viatura  policial...

Como diria um velho jornal alternativo nos anos 1970, em resposta a um bordão ufanista da ditadura, "Brasil, ame-o ou deixe-o":

- O último a sair apague a luz! 




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