Eles têm apenas de quatro a seis anos de idade. E já são jornalistas! Toda semana, crianças de uma escola municipal de São Paulo elaboram as pautas, editam as matérias e fazem a locução de reportagens para uma rádio cujo nome também escolheram: Jacaré FM. Apesar de veiculada somente na internet, tem audiência cativa entre professores e coleguinhas. A boa notícia é que os repórteres mirins tomaram gosto pela experiência e este sucesso se refletiu nos estudos em sala de aula: o desempenho das crianças em língua portuguesa melhorou sensivelmente após a experiência, segundo o colunista Gilberto Dimenstein, que se mostrou entusiasmado em sua coluna na rádio CBN.
Iniciativas como essa num país de tantos contrastes como o Brasil não deixam de nos causar alívio e uma certa dose de esperança, ainda que a realidade brasileira não ajude. Ontem mesmo, em uma crônica de Zuenir Ventura, no Globo, "Como (não) formar leitores", o jornalista mostrava-se preocupado com a falta de hábito de leitura no Brasil, um país em que mais de 70 milhões de pesoas não leem. É muita gente privada do prazer de ler. Segundo Zuenir, um dos motivos estaria na falta de renovação das listas de livros que os adolescentes são obrigados a ler na escola, listas que misturam clássicos indiscutíveis como "Brás Cubas", de Machado de Assis, ao lado de prosas datadas como "Iracema", de José de Alencar". Muitos livros indicados indevidamente podem causar no jovem leitor a sensação de que a leitura é uma coisa muito chata. Para Zuenir, não seria hora de receitar aos nossos alunos textos mais modernos como os de Rubem Braga, Fernando Sabino ou Luís Fernando Verissimo? Assino embaixo.
Porém, esta semana, o Jornal Nacional fez uma reportagem que é uma ótima notícia para quem preza o hábito de ler. Dia 8 de fevereiro foi inaugurada, no exato local onde havia o famigerado Complexo Penitenciário do Carandiru - sim, aquele mesmo do filme que você deve ter assistido, cujo massacre em 1992 resultou na morte de 111 presos pelas forças de repressão do estado de São Paulo - a Biblioteca São Paulo, uma livraria composta pelo que há de mais moderno no incentivo á leitura. Em formato de uma moderna livraria, dá atenção especial para as crianças, com prateleiras onde os livros infantis ficam dispostos de forma que qualquer pequeno leitor possa manuseá-los antes de começar a leitura. A tecnologia não foi esquecida, com mais de 100 computadores e até máquinas especiais próprias para cegos, que escaneiam os livros e fazem a leitura sonora de revistas e livros para aqueles não enxergam.
Como deu pra perceber nos exemplos de Zuenir e da nova biblioteca, a tecnologia pode ser uma ótima aliada na conquista de novos leitores. É isso que vem fazendo o sucesso da Jacaré FM, ao apostar no auxílio dos meios de comunicação para melhorar o rendimento escolar das crianças, tornando a experiência do ensino mais lúdica e instrutiva. Longe de considerar o computador, a televisão e o rádio como "inimigos" ou "adversários" do ensino, educadores já começam a verificar que a aliança com as mídias - analógicas ou digitais - pode trazer boas novidades às escolas.
Ainda segundo Dimenstein, a exxperiência inovadora desta escola começa a se refletir também na graduação. Recentemente a USP criou o curso de Educomunicação, que nada mais é do que o professor usar os meios de comunicação na aprendizagem. Poderíamos dizer que não é uma experiência nova - há muitos profesores em diversos cantos do Brasil que costumam trazer o jornal, a televisão ou o rádio para a sala de aula a fim de complementarem de forma criativa suas aulas. Mas é algo que pela primeira vez ganha o escopo de um curso superior. Ou seja, num tempo em que as novas mídias digitais conquistam cada vez mais espaço na preferência dos jovens, por que não usar destas mídias emn sala de aula, como ferramenta de ensino, em vez do ultrapasado giz e quadro negro para ensinar a norma culta?
A experiência da Jacaré FM mostra que a iniciativa tem tudo pra dar certo. Saudemos então os pequenos repórteres de São Paulo, e que outras escolas Brasil afora não tenham medo de copiar tão bela iniciativa.
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