Há uma coluna na revista Veja intitulada SobeDesce, cujo objetivo é listar, dentre os assuntos mais comentados da semana ) aqueles que teriam tido uma repercussão positiva (Sobe) ao lado de outros que tiveram repercussão negativa (Desce). Tudo segundo a ótica editorial da revista, ficamos combinados assim. Na edição do dia 12 de março de 2014, a seguinte nota chamava atenção:
DESCE
Eduardo Paes
Criador de uma multa para quem sujar as ruas, o prefeito do Rio foi flagrado em um vídeo jogando lixo no chão. Ele pediu que fosse multado, mas não assumiu o erro.
Bem, a notícia já está ficando velha, mas as eleições vem aí e a internet está aqui mesmo para que não esqueçamos. Este foi apenas um exemplo da péssima atitude de quem, do alto de sua arrogância, criador de uma multa de mais de 150 reais para quem joga lixo nas ruas (aliás, neste ponto, certíssimo), se acha no direito de fazer em público o contrário do que advoga nas leis. "O prefeito porquinho" foi apenas um dos títulos mais amenos que li aqui na rede, entre comentários no Youtube, Facebook, Twitter e demais fóruns de vozes revoltadas com a atitude.
Como este é um blog que entre outros assuntos discute questões ligadas à Comunicação, vale a pena conferir outra reportagem sobre o mesmo fato - no caso, do site do jornal O Globo, sobre o fato: Vejamos um trecho da reportagem:
Em
meio à péssima repercussão, às desculpas foram hilárias. Primeiro, sua
assessoria disse que Paes estava tentando jogar o lixo em direção a uma
lixeira, fato facilmente desmontado pelo vídeo. Depois, o prefeito disse que na
hora teria jogado o lixo para algum assessor pegar e jogar no lixo. E, por fim,
tratou de multar a si mesmo, no valor de R$157,00.
Tudo isso não teria provavelmente caído no esquecimento se não fosse o Youtube. Sim, a Web 2.0 e todo seu perfil da internet como plataforma colaborativa e de compartilhamento de vídeos, informações etc levou ao estágio de hoje, no qual pessoas antes excluídas do debate público podem se manifestar a partir de seus smartphones, tablets e notebooks. Se há o lado o ruim preconizado por tecnófobos como o polemista Andrew Keen (autor de "O culto do amador"), quando uma enorme quantidade de lixo vem à tona, e em todo lugar surgem os "haters" (literalmente "odiadores", pessoas que se escondem sob pseudônimos para exalar sua raiva a todo tipo de indivíduos, mas com predileção especial a famosos), há também espaço para que outras pessoas - que não sentem medo de mostrar a cara e dizer seus nomes - possam tornar públicas situações como essa do prefeito e diversos outros desmandos do poder público. Sim, não só os jornalistas agora é que são os legítimos representantes da opinião pública.
Transcrevo abaixo um trecho da crônica "O autor coletivo", presente no livro "Futuros possíveis", de autoria de Ronaldo Lemos, advogado, debatedor do programa "Navegadores" (Globonews) e uma das maiores referências no debate sobre as novas mídias no Brasil e no mundo:
"Esse modelo de produção colaborativa está sendo apelidado de 'web 2.0'. O termo indica o desenvolvimento recente da internet, que potencializa formas de canalizar o trabalho descentralizado de voluntários. Essa nova vertente de produção cultural, ao que tudo indica, veio para ficar. Em tempos nem tão longínquos, um evento como os atentados em Londres, o tsunami na Ásia ou os ataques à Espanha, seriam não só eventos políticos, sociais e econômicos, mas também eventos de mídia. Hoje, a cobertura da mídia tradicional compete diretamente com a cobertura feita de forma descentralizada, por qualquer pessoa. Em outras palavras, a mídia tradicional ganhou um concorrente inédito historicamente: a própria sociedade"
Foi a sociedade que vazou o vídeo de Paes no Youtube a
lançou o prefeito num inferno astral. Se ele conseguirá reagir e melhorar sua
imagem, só saberemos mais tarde. Mas tenho certeza de que a partir de agora ele
ficará bem mais precavido. Ele sabe que estaremos de olho, para cada eventual
tropeço.
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