sexta-feira, 7 de março de 2014

Lides Imperdíveis - Eliane Brum e o louco do metrô


Voltando a série "Lides imperdíveis", Marginal Conservador pede licença para ceder espaço ao texto brilhante de Eliane Brum, que abre a crônica "Escutem o louco". Escrita para a versão digital e nacional do jornal "El País", Eliane disseca o que ela classifica como "momento perturbador" do Brasil - como os recentes linchamentos ocorridos em algumas cidades, ou a vontade de alguns grupos de quererem fazer justiça com as próprias mãos - com o episódio de uma moça que foi empurrada por um homem para dentro dos trilhos do metrô de São Paulo.
Na polícia, foi revelado que o responsável por empurrar a mulher no metrô sofre de esquizofrenia. Louco, na definição vulgar. Mas, pergunta Eliane, seria apenas ele um louco num país em crescente desatino? Preste atenção na cena que abre a crônica, um momento que só repórteres experientes costumam ter a sensibilidade para aproveitar e transformar em jornalismo. Vale a pena ler não só esse lide como a crônica inteira, e depois refletir sobre nosso estado das coisas que tem tomado conta do pais.  


De repente, o taxista aumentou o som da pequena TV acoplada no console do carro. No banco de trás, eu parei de ler e afinei os ouvidos. Era meio-dia da sexta-feira de Carnaval (28/2). O homem que, dias antes, havia empurrado uma passageira nos trilhos do metrô de São Paulo tinha sido preso. A mulher teve o braço amputado. O agressor sofre de esquizofrenia, destacou o apresentador de TV. “Louco”, decodificou de imediato o taxista. Doença triste, disse o apresentador na TV. Ao ser preso, continuou o apresentador, o agressor afirmou que a empurrou porque sentiu raiva. Essa parte o taxista não escutou. Algo lá fora o havia perturbado. Colou a mão na buzina, abriu a janela do carro e xingou o motorista ao lado, que tentava mudar de pista. Perdigotos saltavam da sua boca enquanto ele empunhava o dedo médio com uma mão que deveria estar no volante. Fechou a janela, para não perder a temperatura do ar-condicionado, e voltou a falar comigo. “A polícia tem de tirar os loucos da rua”. A quem ele se refere, pensei eu, confusa, olhando para fora, para dentro. Era ao louco do metrô


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