Um dos momentos mais bacanas da semana passada em Paraty foi a homenagem que os participantes da mesa "Separações" fizeram a Domingos de Oliveira. Domingos é um dos caras mais produtivos do cinema e teatro brasileiros, com textos invariavelmente deliciosos. Seus filmes, de baixíssimo orçamento, já foram comparados aos de Woody Allen. Mas Domingos tem um estilo próprio e único.
Transcrevo aqui um texto do autor, declarado ao fim da apresentação em Paraty, com os merecidos aplausos do público.
O homem lúcido
O Homem Lúcido sabe
que a vida é uma carga tamanha de acontecimentos e emoções que ele nunca se entusiasma com ela
Assim como ele nunca tem memórias
O Homem Lúcido sabe
que o viver e o morrer são o mesmo em matéria de valor
posto que a vida contém tantos sofrimentos que a sua cessação não pode ser considerada um Mal O Homem Lúcido sabe
que ele é o equilibrista na corda bamba da existência
Ele sabe que por opção ou por acidente é possível cair no abismo a qualquer momento interrompendo a sessão do circo
Pode também o Homem Lúcido optar pela vida
Aí então ...
Ele esgotará todas as suas possibilidades
Ele passeará pelo seu campo aberto pelas suas vielas floridas
Ele saberá ver a beleza em tudo!
Ele terá amantes, amigos, ideais
urdirá planos e os realizará
Resistirá aos infortúnios e até mesmo às doenças
E se atingido por um desses emissários
saberá suportá-lo com coragem e com mansidão
E morrerá, o Homem Lúcido, de causas naturais e em idade avançada
cercado pelos seus filhos e pelos seus netos que seguirão a sua magnífica aventura.
Pairará então sobre a memória do Homem Lúcido uma aura de bondade
Dir-se-á: "Aquele amou muito. Aquele fez muito bem às pessoas!"
A Justa Lei Máxima da Natureza obriga que a quantidade de acontecimentos maus na vida de um homem se iguale sempre à quantidade de acontecimentos favoráveis
O Homem Lúcido, porém
esse que optou pela vida com o consentimento dos deuses
tem o poder magno de alterar essa lei
Na sua vida, os acontecimentos favoráveis serão sempre maioria...
Porque essa é uma cortesia que a Natureza faz com Os Homens Lúcidos
(Domingos de Oliveira)
2 comentários:
Lindo o texto, me chamou bastante atenção. Pura realidade o que diz nele,muito interessante. Abraços Thuane Tamborindeguy!
Que bom que gostou, Thuane. Domingos é um cara de extrema sensibilidade, e sua dramaturgia e filmes merecem ser conferidos. Um beijo.
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