Segundo Sartre, o inferno são os outros. Para dar um adendo, o inferno são os outros soprando vuvuzelas.
Luís Fernando Verissimo
Deu no Informe JB:
Vuvuzela, não!
Para se livrar do barulho das vuvuzelas em jogos da Copa, um alemão conhecido como Tube, dono do blog Surfpoeten, decidiu investir num software que filtra a frequência da maldita corneta. Ele transfere o áudio da TV para um computador com um programa especial, que rejeita as frequências mais, digamos, enlouquecedoras.
Vuvuzela, não! 2
Usuários de IPhone podem (mas não façam isso!) baixar 11 aplicativos com sons de vuvuzela. O toque "Vuvuzela 2010", por exemplo, já foi baixado mais de 750 mil vezes. Realmente, há gosto para tudo.
Não tem jeito mesmo: esta Copa será definitivamente lembrada - para o bem ou para o mal - como a "Copa das vuvuzelas". Lembro que a primeira vez que ouvi o som das cornetas africanas foi na final da Copa das Confederações, em 2009. Naquele mesmo dia, minha mãe, ao passar perto da TV, achou que havia algum problema com o som do aparelho. Parecia uma invasão de insetos, algum tipo de praga.
- A televisão está com um som estranho, reparou? Será que está bem sintonizada?- Está sim. Este som é o das vuvuzelas.
- E o que é isso?
- São as cornetas africanas, tocadas pela maioria da torcida no estádio.
- Que som horrível!
- Pois é...
Pelo menos não somos apenas nós, brasileiros, que estranham e se incomodam com o barulho das vuvuzelas (nem todos, é claro, como mostra a segunda notinha acima). Na festa de abertura da Copa, ela foi terminantemente proibida, para não abafar o som das estrelas pop. Mas no dia dos jogos é que a coisa pega: as cornetas praticamente só se calam na hora dos hinos oficiais dos países. Andei lendo que há jornalistas brasileiros levando protetores de ouvido para os estádios.
E já há até explicações científicas que tentam desvendar porque a vuvuzela incomodaria tanto. O mesmo JB, no artigo "A vuvuzela e a ciência da zoeira", o britânico Trevor Cox, presidente do Instituto de Acústica do Reino Unido, resume:
- Uma única vuvuzela, tocada por um músico competente, remete a um som ancestral, como o de uma trompa de caça. Mas o som é menos agradável quando é tocada por um fã de futebol, já que as notas são imperfeitas. Além disso, cada torcedor toca com uma intensidade e frequência diferente, causando uma zoeira, parecida com o zumbido de insetos ou um berro de elefante.
Berro de elefante? Uma corneta apenas não faz verão, mas centenas em uníssono lembram mesmo uma manada de elefantes. Claro que sempre surge alguém que tenta se dar bem: um jogador holandês escapou de ser expulso depois de fazer um gol com o jogo já paralisado, ao avisar para o juiz que não escutou o apito por conta do barulho das vuvuzelas. E depois de várias reclamações, a Fifa estuda proibir a malfadada corneta.
Sei não. A princípio sou contra. Estádios são lugares de jogos e também de festa nas arquibancadas. Em todo o mundo há torcidas que levam não só cornetas mas vários outros instrumentos e fazem um fuzuê danado. Por que proibir logo a vuvuzela? Podemos achá-las chatas, mas os africanos, nossos anfitriões nessa Copa, adoram.
Voltando às duas notinhas que abrem esse texto, é interessante notar como nos dois exemplos, ainda que antagônicos, há ali algo em comum: ao se referir a um blog e celulares modernos eles refletem a força das novas mídias na contemporaneidade, que entram sem pedir licença, mudando comportamentos, sugerindo novas pautas na mídia tradicional (né mesmo, JB?), levando-nos ao encontro de uma nova realidade.
Na última Copa, não havia celulares 3G, o Youtube ainda engatinhava e o Twitter nem havia surgido. Com a velocidade que as novas redes sociais se instalaram e o avanço da internet no Brasil, muitos hábitos mudaram. Duas recentes pesquisas divulgadas por Gilberto Dimenstein e sua coluna na CBN comprovam tal afirmação. Hoje o Brasil seria o campeão mundial no uso de redes sociais, com o Orkut ainda reinando soberano no topo dos preferidos. A outra pesquisa, segundo Dimenstein, foi feita entre jovens brasileiros de 16 a 24 anos, inclusive da classe C, e verificou que ali a internet chega a competir com a TV aberta.
Daí o imenso sucesso da campanha "Cala a Boca Galvão" no Twitter, feita "em homenagem" ao locutor global Galvão Bueno, e que desde o início da Copa figura entre os tópicos mais acessados da rede social, chegando até ao primeiro lugar dos assuntos mais comentados. Americanos e europeus, é claro, não entenderam nada. Para "explicar", gaiatos brasileiros (vem cá, neguinho não tem mais nada pra fazer não? rsrs) informaram que o 'galvão' seria um pássaro brasileiro ameaçado de extinção, e que o nome da campanha na verdade queria dizer "Save galvão birds". Outros, ainda mais imaginativos, deduziram que seria o nome de uma nova canção de Lady Gaga, deixando o fã-clube oficial da moça ouriçadíssimo sobre o vazamento na rede de um suposto novo hit da performática cantora...
Mas qual seria a origem das vuvuzelas, a despeito de todas as explicações científicas? A melhor explicação que ouvi até agora foi feita pelo colunista José Simão, na Band News: a vuvuzela seria filha bastarda de um relacionamento de Galvão Bueno com uma boneca inflável (!). Daí o singular "É tetraaaaa..." do Galvão torcedor (ops, locutor) combinar tão bem com o barulho ensurdecedor das cornetas.
Vuvuzelas berrando nos estádios, Galvão Bueno confundido com um pássaro, Lady Gaga e por aí vai...quantos sons nos chamam a atenção nessa Copa! Por hora, fico com um som bem mais agradável e divertido do que as vuvus ou a locução do Galvão. Me refiro ao "Mandelation" - mistura de "Rebolation" com homenagem a Nelson Mandela, criado (quem mais?) por torcedores brasileiros na África do Sul. Divirtam-se e até o próximo post.
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