Cinquenta e dois anos separam duas das maiores
tragédias envolvendo incêndios na história brasileira. Em dezembro de 1961, às
vésperas do Natal, mais de 500 pessoas (o número exato nunca foi demarcado), em
sua maioria jovens e crianças, morreram enquanto assistiam à matinê do Gran
Circo Norte-Americano, em Niterói, no estado do Rio de Janeiro. Em janeiro de
2013, centenas de jovens - em grande parte universitários que arrecadavam fundos
para suas festas de formatura - encontraram a morte após um dos músicos da
banda que se apresentava no interior da boate Kiss, em Santa Maria, no Rio
Grande do Sul, lançar inadvertidamente um foguete (de artifício) no teto do
palco do local.
Falta de prevenção contra acidentes, descaso
das autoridades, ganância dos proprietários, ambientes com pouca segurança.
Todas estas características - presentes em ambas as tragédias - mostram que a
realidade brasileira pouco ou nada mudou em cinco décadas. O Brasil
infelizmente acostumou-se a acompanhar suas tragédias anunciadas pelos meios de
comunicação, sem que a situação melhore para os principais envolvidos: as
vítimas expostas ao fogo.
No entanto, no que concerne à cobertura dos
veículos de comunicação, podemos afirmar categoricamente que esta se
transformou bastante. Se, no primeiro caso, uma cidade traumatizada pelo
incêndio no circo acompanhou o fato pelo rádio, jornais e uma incipiente
televisão (na época, a TV contava apenas onze anos no Brasil, era ainda um
veículo caro e para poucos), em 2013, na tragédia da boate em Santa Maria o
Brasil inteiro acompanhou a cobertura jornalística por meio de diversas mídias
- muitas delas nem haviam surgido em 1961, como os portais jornalísticos e as
redes sociais da internet.
O texto acima é o começo do artigo "Tragédia em dois tempos", escrito em parceria por mim e o aluno Renan Henrique de Oliveira, da faculdade de Comunicação do UniFOA, em Volta Redonda, onde dou aulas. Inscrevi o artigo no Intercom Manaus, no ano passado. Ele foi não só aceito, como suscitou um bom debate em sua apresentação e mais tarde ensejou um convite para virar capítulo de um livro cujo conteúdo seria apenas relacionado à tragédia do incêndio na boate Kiss, que está fazendo um ano neste começo de 2014. O resultado, com textos de autores de todo o Brasil, acaba de sair em e-book, sob o título "Midiatização da tragédia em Santa Maria", organizado pela professora e pesquisadora Ada Cristina Machado da Silveira, do Grupo de Pesquisa da FACOS "Comunicação, identidade e fronteiras".
A proposta do artigo foi analisar a evolução dos
meios de comunicação entre 1961 e 2013 a partir da comparação da cobertura
midiática destas duas tragédias separadas pelo tempo. Ou seja, ressaltar as transformações que a cobertura jornalística
sofreu nestes 52 anos - o que mudou na rotina
e no perfil do jornalista desde então, como se deu a modernização da imprensa
neste período, como foi a adaptação do profissional e dos meios às novas mídias
eletrônicas e digitalizadas. Sem esquecer quais teriam sido os aspectos
similares e diferentes da cobertura entre as duas grandes tragédias.
Quem estiver interessado em ler não só o artigo mas o e-book, deixo o link para baixá-lo:
http://comunicacaoeidentidades.files.wordpress.com/2014/01/midiatizacao_da_tragedia_de_santa_maria_facos-ufsm-1-atualizado.pdf
Boa leitura!
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