Em janeiro de 2011, eu estava junto aos milhares de espectadores da terceira edição do Rock in Rio. Era o primeiro dia do festiva e quem abriria a noite era simplesmente Cássia Eller. O dia ainda estava claro quando Cássia adentrou o palco munida apenas de violão e começou a cantar uma canção de Renato Russo, que dizia "sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher". Atrás dela, uma banda afiadíssima, com a participação do Nação Zumbi em algumas músicas. Mais atrás, escondido entre os instrumentos de percussão, estava o filho de Cássia, Chicão, com 6 anos e participando do show.
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Menos de 40 minutos depois de um show arrasador e com a plateia já ganha, Cássia começa a cantar suavemente a letra de "Smells like teen spirit". Logo depois, o chão literalmenbte tremeu com o poderoso refrão do rock de Kurt Cobain e a animação da plateia. Confesso que não me lembro de ver tanta gente pulando e gritando a letra de um rock tão furiosamente como naquele grand finale do show. Nos bastidores, o ex-baterista do Nirvana Dave Grohl,\participando do festival com sua banda Foo Fighters, ficara embasbacado com a interpretação. Foi um dos maiores shows da história do Rock in Rio e uma das maiores performances de uma cantora em qualquer momento dos festivais de música no Brasil
Tudo isso está contado no filme "Cássia Eller", de Paulo Henrique Fontenelle, o mesmo do ótimo "Loki" (2008), sobre o eterno mutante Arnaldo Batista. O mais interessante do filme é mostrar como um menina bastante tímida, insegura, com dificuldades em relacionar-se com pessoas de qualquer ramo (mal conseguia dar entrevistas) se transformava num furacão quando estava no palco. Em mais de uma cena do filme, Cássia surge dizendo que cantar foi a salvação que ela encontrou para ser aceita socialmente e poder ser observada com mais atenção. No caso dela, cantar surgia muito mais do que uma vontade imperiosa, mas uma necessidade arrasadora de sentir-se livre. Cantar para viver, em qualquer palco, em qualquer canto. Para ela, pouco importava estar nos palcos luxuosos das grandes casas de espetáculo do sudeste ou, disfarçadamente, surgir de surpresa com cantora de uma bandinha feita às pressas, no palco de um forró pé-de-serra na cidade serrana de São Pedro da Serra, no Rio de Janeiro, para surpresa e deslumbre da plateia.
"Cássia Eller", o filme, conta a história desta grande cantora com rigor e bastante emoção, como nos momentos finais, ao mostrar a luta de sua companheira Maria Eugênia, pela guarda judicial de Chicão. Mas o que fica mesmo é a marca daquela que cantou de tudo enquanto esteve viva. Cássia faz muita falta no cenário de música brasileira atual, que parece ter encaretado desde então. Não perca.
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