Em junho de 2009, após os resultados da votação para presidente do Irã, que reelegeu o controverso Mahmoud Ahmadinejad, o país foi marcado por grandes manifestações de rua. Partidários do candidato derrotado, Mir Mousavi, acusaram o governo de fraudar as eleições e organizaram várias passeatas, muitas delas reprimidas violentamente pelas tropas de repressão. Num regime fechado e que proíbe a entrada de jornalistas estrangeiros, o mundo ficou sabendo em grande parte do que acontecia nas ruas pelos recados e vídeos postados em redes sociais como twitter e o youtube, por iranianos indignados. Naquele mês, uma cena trágica correu o mundo, via youtube: mostra o instante da morte de uma iraniana numa manifestação, após ser atingida no peito por uma pedra.
Porém, os protestos contra o resultado das eleições não se deram apenas nas ruas. Nos dias que se passaram ao resultado, à noite, os telhados de Teerã foram tomados por mulheres que gritavam "Deus é grande", "Justiça!", em protesto contra o resultado das urnas. Uma destas cenas foi captada pelo jornalista italiano Pietro Masturzo. A imagem - nada óbvia mas altamente simbólica do grito de revolta no interior de um país totalitário - foi considerada a melhor do ano de 2009 pelo júri do World Press Photo. Ela e mais 161 fotos estão na mostra em cartaz na Caixa Cultural, no Centro do Rio. Uma verdadeira viagem fotográfica registrada pelos olhares dos fotógrafos nos quatro cantos do mundo.
São imagens diferenciadas e que fogem do lugar-comum para ir da beleza à tragédia, do espanto à incredulidade. Muitas nos causam revolta; outras humor. Há a mãe americana a levantar da cama o filho que perdeu 40% do cérebro num bombardeio no Iraque; os dois homens que se escondem atrás de um camburão de lixo, tendo à frente uma grande batalha de rua entre policiais e manifestantes; a incrível foto submarina de um martin-pescador no exato momento em que o pássaro alcança o peixe; o ritual de esquartejamento de um elefante encontrado morto na África por nativos esfomeados; um festival de música pop nos Estados Unidos repleto de neohippies e que poderia muito bem ser confundido com Woodstock; a curiosa série de crianças andróginas na Holanda (quando ficamos em dúvida sobre quem é menino e quem é menina); a inusitada e por vezes hilariante característica dos ricos africanos que viajam à Paris para comprar roupas europeias e, na volta, posam à caráter, virando celebridades locais. Do Brasil, há somente uma foto, de Daniel Kfouri, que retrata um salto do skatista brasileiro Bob Burnquist.
Mostrando que estão antenados com a emergência das mídias sociais, a imagem da mulher morta nos protestos de rua em Teerã e que parou no youtube ganhou "menção especial" do júri e está presente à mostra.
São fotos que nos fazem pensar e questionar a grande aventura humana pelo período de um ano. Para chegar ás 162 fotos premiadas, o júri recebeu mais de 100 mil fotos, enviadas do mundo todo por fotógrafos de 128 nacionalidades. Fico imaginando quantas outras tão belas devem ter ficado de fora, numa mostra em que o impacto de contar uma história através de um instantâneo fotográfico não deixa absolutamente nenhum visitante imune. Captar a atenção do indivíduo, fazendo com que ele se interesse pelo contexto e a carga de informação que aquela imagem carrega é um dos principais emblemas do bom fotojornalismo.
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