quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

O bebê rasgando papel na propaganda do Itaú

A primeira vez que vi o comercial achei com pinta de videocassetada do Faustão. Depois, ouvindo a CBN, descobri que se trata de uma propaganda inspirada num viral do ano passado, cujo número de visualizações ultrapassou a marca de 34 milhões só em 2011. Espertamente, o banco utilizou recursos digitais para deixar a roupa do menino da cor laranja (cor-símbolo do Itaú) e também mexeu com efeitos de imagem no papel que o pai rasga, para deixá-lo com cara de extrato bancário.

O resultado: um viral ingênuo e inocente de um adorável garotinho na internet transformou-se em uma propaganda de banco que prega a "sustentabilidade". Tudo bem, afinal a regra hoje é pegar carona no discurso em prol do meio ambiente, mas não podemos esquecer que o interesse comercial, no caso, é bem maior. Pois ao pedir para os clientes que cancelem o recebimento de extratos pelos correios, o Itaú economizará uma grana milionária, como bem observou o blog do JJ, que, à respeito do anúncio, faz uma singela perguntinha: "ninguém fala em reduzir custos dos bancos para os clientes, fala?"

Vejamos o vídeo original...



E, abaixo, o vídeo do Itaú:




Voltando às videocassetadas. É sabido que a produção do Domingão do Faustão e de congêneres que passam estes vídeos feitos pelo público pagam um valor determinado aos responsáveis pelo envio dos vídeos. Também há casos (muitos, desconfio)de pais e mães que planejam determinada "vídeocassetada" para ser mostrada na TV e conseguir uma grana, sem o menor constragimento. Sim, people, não existe almoço grátis. Minha pergunta: será que a agência que criou o comercial do Itaú entrou em contato com a família do garotinho para pedir autorização, no intuito de transformar digitalmente a saudável brincadeira entre pai e filho em anúncio de banco?

Tomara que sim. Pois o que pode parecer excesso de zelo de minha parte ou de outros também pode ser já uma leitura influenciada pela iminência da votação da SOPA. Pra quem não sabe, a sigla (Stop Online Piracy Act) é uma lei controversa proposta pelo governo dos Estados Unidos que propõe regular os direitos autorais na grande rede. Até aí tudo bem. Mas também propõe que qualquer provedor, site de busca ou rede social seja responsabilizado pelo conteúdo publicado pelos usuários caso este seja protegidos por direitos autorais. Ou seja, punir com a lei quando o usuário de uma rede social ou de um blog publica um vídeo musical ou trecho de um filme sem autorização, de uma forma "pirata". É aí que tudo se complica. Pois, o que é conteúdo "pirata" para alguns, pode ser difusão do conhecimento para outros.

O assunto é muito sério e voltaremos a ele em outros posts. Por hora, só gostaria de fazer uma perguntinha ao Itaú: e então, vocês pagaram os devidos direitos de imagem à família do adorável garotinho rasgador de papel?

3 comentários:

Rosana disse...

Pela matéria do F5 (Folha), publicada em 19/01/12, o pai foi contatado e liberou o uso da imagem. Com certeza ele levou alguns $$$ http://f5.folha.uol.com.br/fofices/1036608-pai-conta-que-bebe-do-comercial-do-itau-vai-ganhar-irmazinha.shtmlcom isso.....

Rogério Martins disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rogério Martins disse...

Sim, Rosana. Com certeza o pai do pequeno Micah recebeu uma grana pela liberação das imagens do filho no comercial. O que eu queria com este artigo era observar como os virais da internet já estão se tornando potenciais peças da publicidade mainstream, ao serem transpostos para outro contexto. E aproveitar para acrescentar um comentário, uma leve provocação, sobre a questão dos direitos autorais na grande rede. Sabemos que o uso de imagens e textos sem permissão de autores é algo bastante comum e que por vezes pode causar problemas. Obrigado pelo comentário!