sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
Existe amor em SP - Parte 1
Na medida do impossível
Tá dando pra se viver
Na cidade de São Paulo
O amor é imprevisível
Como você
E eu
E o céu
("Lá vou eu", Rita Lee)
O dia: sexta-feira, 24 de janeiro, por volta das 22h30. O local: Sesc Vila Mariana, São Paulo. Adentra o palco o músico Curumin. Ele senta num banquinho e segura um violão. Os músicos a sua volta aguardam o momento de acompanhá-lo. Ele dedilha o instrumento, faz uma pequena pausa...aproxima-se do microfone e começa a cantar "Não existe amor em SP". A plateia vibra de satisfação e aplaude. Um arrepio corta a espinha enquanto acompanho o público cantando junto o clássico instantâneo de Criolo. Curumin está acompanhado por um time de músicos e intérpretes de primeira, selecionados pelo produtor Bid em parceria com o Núcleo de Apresentações Artísticas do Sesc Vila Mariana, para comemorar o aniversário de 460 anos da cidade. Para este show, a ideia foi selecionar músicas que representassem a relação do paulistano com sua cidade - uma relação muitas vezes amorosa; outras vezes de ódio.
Para um carioca de passagem pela cidade, como eu, o roteiro contrastante do show poderia parecer exótico. No Rio, é difícil encontrar alguém que diga "amo e odeio esta cidade com igual intensidade", como muitos paulistas repetem. Mesmo vítima de tantos governantes incompetentes, tendo que aturar o caos no trânsito com as obras para a Copa, o morador do Rio costuma poupar a cidade de tantos dissabores. Claro que há aqueles bairristas, que adoram criticar São Paulo, com a mesma alegação tosca: não tem praia. Sim, não tem praia, mas tem o Museu do Futebol, o Museu da Língua, O Parque do Ibirapuera, 6 mil pizzarias, tem o Masp, a Pinacoteca e muito mais.
Algumas destas atrações eu pude conferir de perto na semana passada, durante uma breve estada na capital paulista. Eu havia estado em SP algumas vezes na minha infância, em excursões pela finada Soletur, com meus pais e irmãos. Nos divertíamos a valer naquele programa básico: Simba Safari, Cidade das Crianças etc. Minhas lembranças da capital paulista eram muito poucas. Lembro-me de jantar com a família num ótimo restaurante e imagens da cidade à noite. Somente isso. Depois, voltávamos ao hotel, para dormir e seguir viagem no dia seguinte. Com 12 ou 13 anos, eu estava bem mais interessado em me divertir nos parques do que mergulhar na cultura da maior cidade do país.
Também àquela época eu não conhecia muitas das músicas apresentadas no espetáculo do Sesc. Para minha sorte, o tempo passou, a cidade e eu crescemos e, na qualidade de "estrangeiro" em SP, pude aproveitar e cantar junto grande parte das músicas escolhidas, músicas estas que, segundo o programa de divulgação, buscassem "expressar, por meio de um repertório eclético, as contradições da metrópole e os sentimentos provocados em seus habitantes".
O show começara com a banda de ótimos músicos - a maioria vestindo roupas nas cores branca, vermelho e preto, as mesmas da bandeira do estado - levando um número instrumental de categoria. Há até um DJ no palco, o que sugere um show em sintonia com os novos tempos. Aos poucos cada convidado vais sendo chamado para números individuais ou em dupla. São eles: Monica Salmaso, Paula Lima, Curumin, Edi Rock, Silvio Modesto e integrantes da escola de samba Pérola Negra.
Difícil dizer o momento mais emocionante. Monica Salmaso interpretando "Eugenia", de Adoniram Barbosa ("Venha ver Eugenia, como ficou bonito o viaduto Santa Efigenia") e fazendo todos cantarem juntos "Sampa", de Caetano. Paula Lima, linda, cantando "Do lado direito da rua direita" e levando um rap com Edi Rock. Curumin, além da já citada interpretação de Criolo, ensinando ao público as deixas para a deliciosa canção "Augusta, Angélica e Consolação", de Tom Zé. Silvio Modesto, ritmistas e pastoras levando um samba-enredo da Pérola Negra. Tudo até o final, com todos no palco cantando "Trem das 11", um dos maiores clássicos da MPB.
Não houve bis após o fim do show. Mas nem precisava: a plateia já tinha sido arrebatada desde que Monica Salmaso cantara ""Lá vou eu", de Rita Lee ou Curumin interpretou Itamar Assumpção, outra das infinitas traduções de SP.
Criolo cantou o labirinto místico de sua cidade com um misto de paixão e desilusão. Pois é...na medida do impossível, os paulistanos vão encontrando um jeito de se viver. Pela beleza do espetáculo apresentado, eles estão no caminho certo. Enquanto isso, os grafites gritam: mais amor, por favor.
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