Continuando a postagem anterior, sigo em frente com um pequeno
apanhado sobre o que mais curti em matéria de cultura em 2014. Na música,
pra variar, pouco tempo pra escutar tanta coisa boa. Sim, pois quem gosta de
música hoje vive o paradoxo de ver um mercado fonográfico preso a fórmulas ainda ligadas ao mainstream (é curioso perceber como uma produção musical tão diversificada como a brasileira seja refletida nas rádios a partir do monopólio atual de um ou dois ritmos, como o sertanejo universitário e o pagode romântico), enquanto a indústria, ainda em crise com os downloads ilegais, segue aos poucos apostando no ainda incerto meio digital. Há hoje opções que vão muito além do rádio e TV, como o iTunes, as rádios de streaming musical, o youtube etc. É só saber procurar e ter olhos e ouvidos bem abertos.
Quem procurar, encontrará na web ótimos programas. podcasts de sites em que muita boa música é mostrada., Destaco, como sempre, o Ronca Ronca de Maurício Valladares, há mais de 30 anos seguindo no rádio (ou melhor, em diversas rádios) mostrando o melhor da produção musical pop do planeta, sem preconceitos. Afinal, onde mais escutar novidades da música africana, gemas do pop latino, pérolas do rock das antigas e artistas que acabaram de lançar seu último disco, tudo no mesmo programa? Difícil achar. E ainda apostei com prazer na Rádio Batuta, do Instituto Moreira Salles, com ótimos podcasts de grandes artistas. Só a pesquisa para o programa sobre Cole Porte, apresentado por João Máximo, valeria a ouvida. Pra quem curte rock e boas histórias, a série sobre o rock brasileiro apresentada por Joaquim Ferreira dos Santos e Arthur Dapieve, referências para este blog, é imperdível Enjoy it, may friends!
Se a música de 2013 foi "Get Lucky", do Daft Punk, creio não restar dúvidas que nenhuma outra foi tão tocada, repetida, assimilada, copiada como "Happy", de Pharrell Williams. Nota-se que uma música virou um clássico quando ela extrapola os limites da esfera estritamente musical. "Happy" foi parar em comerciais de todos os tipos e até em mensagem de fim de ano de televisão foi copiada. Talvez, em tempos de tanto ódio nas redes sociais e culto ao individualismo via selfies, a canção de Williams tenha funcionado como um bem-vindo bálsamo de alegria. E nos estertores de 2013, encontro outra música tão irresistível quanto "Happy". Conferindo o blog de André Forastieri (um dos que acompanho sempre, junto ao seu xará André Barcinski), leio e ouço o que ele clama como a música do verão: "Uptown funk", de Mark Ronson e Bruno Mars. Difícil ouvir parado. Aliás, não troco um Bruno Mars por dez cantores/as pseudo-rebeldes que gostam de aparecer e que são insistentemente convidados para tovcar no brasil. Alô Medina, queremos Bruno Mars no Rock in Rio já!
Quanto aos álbuns lançados, houve tempo (pouco, é claro) para curtir "Vista pro mar", do capixaba Silva, uma das boas surpresas do pop nacional. Mas a melhor de todas talvez tenha sido o álbum de estreia da Banda do Mar, projeto de Marcelo Camelo, Mallu Magalhães e o português Fred. Foi um ano também em que grandes cantoras lançaram ótimos álbuns. As rádios quase não tocaram o segundo e melhor álbum de Alice Caymmi, o sensacional "Rainha dos raios", e também o dilacerante "Encarnado", de Juçara Marçal, cantora do Metá Metá. Quem? Ainda não ouviu? Pois corra para o youtube e confira o quanto você anda perdendo...
Por fim, os livros. Na área de não-ficção, li o excelente "A informação", de James Gleick (tb com atraso, pois o livro foi lançado em 2013). Uma história da busca pela comunicação e informação humanam dos tambores africanos aos faróis europeus, da invenção do transistor à teoria matemática da informação. Das primeiras máquinas de computar dados aos modernos computadores. Não por acaso, está já na minha lista de livros a serem lidos em 2014 o elogiado "Os inovadores", de Walter Isaacson, que acredito complementar a obra de Gleick - além, de é claro, me dar subsídios para as aulas de teorias de comunicação, rs.
Na ficção, dois livros pouco comentados nos cadernos de cultura, mas que descobri através de dicas no Estúdio I, da Globonews (Alô, \Felipe Pena, obrigado!) e na lista de recomendados da Vea. O primeiro, "Oeste - a guerra do jogo do bicho", é um romance de ação incessante (coisa pouco comum na literatura brasileira) sobre a ascenção e queda de vários bicheiros importantes do Rio de Janeiro. Passado em grande parte na zona oeste da cidade, quem ouviu notícias sobre o império dos antigos "capos" do bicho, como Castor de Andrade, e Antonio Português va lembrar na hora de algumas passagens marcantes. Mais que puro entretenimento, o livro se detém na chegada ao negócio da contravenção das famosa máquinas caça-niqueis - vá em qualquer padaria carioca e veja se não há alguma no cantinho com algum viciado jogando. Ou seja, diverte e instrui.
E, por último, aquele que ainda não acabei de ler, mas mesmo assim já recomendo. O delicioso "Está de volta". O autor, o alemão Timur Vermes, parte de uma premissa inacreditável: o que aconteceria se, em pleno século XXI, Adolf Hitler acordasse, aos 56 anos (idade em que teria cometido suicídio) os arredores de Berlin, na Alemanha? O que ele faria? O resultado é uma ficção da melhor qualidade, bastante irônica e mesmo com toques de humor negro, que faz uma bela crítica ao culto ao entretenimento dos dias de hoje e a obsessão pelo marketing na política, algo que nem fuhrer conseguiria imaginar em que se tornaria.
Só o capítulo em que o redivivo Hitler se confronta com a programação atual da TV, repleta de programas de culinária (sim, até na Alemanha a filosofia foi trocada por um belo risoto) é hilária. Como este blog busca em grande parte selecionar temas ligados à esfera da Comunicação, fica a dica a todos.
Feliz 2014!
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