quarta-feira, 5 de novembro de 2008

1º Festival Internacional de Humor do Rio de Janeiro

I) Uma mulher insegura pergunta a um homem insensível, que lê um jornal:

- Querido, você me amaria se eu fosse feia?
- Amaria.
- Querido, você me amaria se eu fosse gorda?
- Sim, amaria.
- E se eu fosse caolha?
- Amaria!
- Me amaria se eu fosse manca?
- Amaria!
- Se eu fosse cega?
- Amaria!
- Se eu fosse surda?
- Amaria, amaria!

O homem larga o jornal, olha para a mulher, e completa:
- Agora, amaria muito mais se você fosse muda!


II) Um gato atormentado faz várias perguntas a uma gatinha...

- Por que você me chama de Analfabeto Sexual?
- Porque não sabe onde fica o Ponto G...
- E pra que eu preciso do Ponto G?
- Pra saber o que fazer na Hora H...
- O que eu tenho que fazer na Hora H?
- Botar os Pingos nos Is...


III) Avó brinca com o netinho. Avô observa:

- Quem é o fofinho da vovó? Quem é?
- Budibudibudibudi. Ele é muito fofinho, é sim senhor!
- A vovó já volta, viu, tesouro?

A avó sai. O avô diz para o neto:
- Fica frio. Com o tempo, o nível da conversa melhora.



Para bom entendedor, as pistas já foram dadas. Os três impagáveis diálogos foram escritos por Angeli, Laerte e Verissimo, três dos maiores nomes do humor e da cultura brasileira, que estão sendo homenageados no Centro Cultural dos Correios, dentro do 1º Festival Internacional de Humor do Rio de Janeiro. Nada melhor para inaugurar este blog, que tratará de comunicação, cultura, comportamento e assuntos afins. Quem são os marginais da cultura? Como entender o pensamento das hordas de conservadores? E como lidar com aquele tipo mais indefinido, perdido na busca de uma identidade, um indivíduo... marginal conservador.

A pergunta é eficaz se levarmos em conta o trabalho de Angeli, agraciado com a mostra "Angeli/Genial". O garoto que em 1975, aos 19 anos, chamou a atenção no Salão Internacional de Humor de Piracicaba, encontrou o sucesso entre os jovens na antológica revista Chiclete com Banana (1985-1990). Um sucesso editorial, que começou com 20 mil exemplares nas bancas e chegou a vender mais de 100 mil. Foi ali que surgiram personagens inesquecíveis, como Bob Cuspe, Meia Oito, Bibelô, Rhalah Ricota, Wood & Stock e a mais famosa de todos, Rê Bordosa. A junkie paulistana ficou tão famosa que o autor não suportou as pressões da publicidade, e no auge do sucesso, em 1987, Angeli "matou" Rê Bordosa, da pior maneira (para a personagem): de tédio matrimonial, casada com o garçom Juvenal.







Essa postura marginal, de quem não se prontificou a aceitar os holofotes da fama, contrasta com o começo de Laerte. Enquanto Angeli levava ao público personagens não habituais nos quadrinhos brasileiros até então, tipos urbanos que ironizavam a sociedade que se transformava com o fim da ditadura e no rastro da redemocratização, Laerte começava sua carreira de um modo altamente politizado. Na mostra "Laerte et Real" podemos ver desenhos raros de personagens - como Zé-Tou-Na-Minha e João Ferrador -, que o artista criou para exercer a política sindical. O sucesso só viria no final dos anos 1980, com as Striptiras, nome dado às suas tiras para jornal; além dos personagens que habitavam o Condomínio, título criado em 1986 e que revelou personagens como o Síndico, o Zelador, o puxa-saco Fagundes e os Gatos. E não se pode esquecer os geniais Piratas do Tietê, uma das maiores criações de Laerte, que virou revista nos anos 90. Aliás, assim como Wood & Stock, de Angeli, viraram filme, comenta-se nos bastidores que há planos para uma adaptação cinematográfica dos Piratas. A conferir.








Quem for aos Correios tem também a chance imperdível de conhecer o trabalho como chargista e quadrinista de Luis Fernando Verissimo, com As Cobras e a Família Brasil. Mais conhecido do leitor médio pelas suas crônicas recheadas de ironia e humor em jornais como O Globo, a mostra "Ver Verissimo" irá surpreender a muitos. O autor chegou a deixar de desenhar as cobras, porque achava que "desenhava muito mal". Mas uma olhada mais atenta permite constatar a expressividade de seus personagens, em situações que retratam o cotidiano de uma típica família de classe média brasileira, como a Família Brasil.





Uma característica comum aos três artistas se impõe nestas mostras: a urbanidade das situações e dos personagens. Angeli e seus personagens anárquicos, punks, hippies anacrônicos, desbundados, cafajestes e outros marginais. Laerte e seu condomínio, de tipos que a gente vê e diz, "eu conheço alguém igual a esse cara". Verissimo e sua família brasileira urbana, lutando por um lugar ao sol e com um olhar todo especial sobre as mudanças de costumes.

Quando fui assinar o livro de visitas, vi que vários visitantes da mostra, após os elogios, deixavam a inscrição: "Deveria ser mais divulgada!" Com certeza. Infelizmente nossa mídia prefere abrir mais espaço para escaramuças e agressões entre um casal de celebridades prestes a subirem ao altar (não preciso citar nomes, não é?), a anunciar aos quatro ventos, em manchetes garrafais: NÃO PERCAM O FESTIVAL INTERNACIONAL DE HUMOR!!!! Uma pena que muitos cariocas e turistas em visita pela cidade deixem de conferir histórias em quadrinhos sensacionais, como "Esfinge", de Laerte - na qual um ser mitológico vai aos poucos devorando partes do corpo de um homem que, desesperado, não consegue decifrar seus enigmas; e "Satisfaction - minha vida em um compacto simples" - uma pequena obra-prima de Angeli, na qual o artista revê seu passado de forma semi-biográfica, e ao misturar ficção e realidade, conta-nos como um compacto simples dos Rolling Stones mudou sua vida para sempre.

Ah, o Centro Cultural dos Correios ainda trás as mostras World Press Cartoon e Troféu Desenho de Imprensa 2008, uma seleção dos melhores desenhos, charges e caricaturas publicadas no Brasil e no mundo no último ano. Imperdível. O festival também acontece no Teatro Jockey e no Oi Futuro, com esquetes teatrais,exposições ae até uma "Mostra de Cinema Angeli", com personagens dos quadrinhos transpostos para a telona.