quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Livros para colorir? Não, obrigado.

Lendo o jornal dia desses, não pude deixar de me divertir com a charge de Bruno Drumond, publicada na Revista do Globo. Em um restaurante, o garçom recebe o pedido de um casal e aponta para o menino que está com eles. "Quer que eu traga um desenho para colorir?". Os pais escutam e, felicíssimos, respondem juntos à pergunta endereçada ao filho: "Queremos!!!".

O mercado editorial está comemorando ao atual boom dos livros para colorir...feitos para adultos. Para sobreviver num país que quase não lê, nossa indústria editorial lança mãos das mais inusitadas ferramentas. Já houve a onda dos livros de gastronomia, dos livros de auto-ajuda, dos livros ligados ao espiritismo etc. Mas, vamos combinar, livro pra colorir destinado a adultos é um pouco demais, não?Já há inclusive livros para colori mais específicos, procurando diversos públicos: mandalas pra colorir, árvores de natal pra colorir, gatos pra colorir, profissões pra colorir etc.

Sou a favor de quaisquer tipos de leitura, sem preconceito. Não sou adepto das listadas acima, mas entendo que pelo menos a leitura deles tornem a pessoa mais articulada e com chances de se ver livre do analfabetismo funcional. Agora, de novo...livros pra colorir?!



Não dá. Outro dia mesmo tive que me segurar na mesa do jantar entre amigo porque, quando fui criticar este tipo de leitura (?) duas professoras a defenderam. Só não parti pra cima delas porque ambas eram do curso de Design. Compreende-se.

Mas e as outras pessoas que compram muito felizes este tipo de literatura (?) e argumentam que funciona como uma forma de "terapia" ao cotidiano corrido e à realidade que nos cerca.

Desculpe, mas não me convencem.

Se a questão é o escapismo, há excelente literatura capaz de empreender as maiores viagens para um ser humano que se disponha a mergulhar no universo da ficção ou da não-ficção.  

Acho mesmo que ocorre uma infantilização do público leitor no Brasil, algo universal mas que num país iletrado toma grandes proporções. Não falo apenas da literatura. Confira a lista dos filmes mais vistos: salvo exceções, são todos produções norte-americanas relacionadas a super-heróis ou comédias rasteiras e vulgares abusando da escatologia. A grande maioria dos filmes voltados ao público adolescente, hoje o maior público-alvo da indústria. Creio que um grande filme de época como "O poderoso chefão", adulto e excelente, seria algo inviável para as novas plateias.

Uma vez me diverti com uma entrevista feita com um livreiro carioca, o qual argumentava que os livros de gastronomia eram mais comprados do que aqueles de grandes filósofos, que vendiam razoavelmente até os anos 1970: "Trocou-se a filosofia por um risoto", dizia ele.

No caso dos livros para colorir, trocou-se a inteligência pela preguiça.