quarta-feira, 27 de abril de 2011

Rio - Cidade Lagoa

Terça-feira de manhã. Ligo o rádio e espero a previsão do tempo. Antes, um ouvinte manda um e-mail para a CBN Rio, lido pelo locutor: "Trânsito bom no geral...entre as lanchas da Baía de Guanabara somente". O locutor não deixa de escapar um riso pela ironia do ouvinte. Nos dias anteriores, fortes temporais voltaram a marcar presença nas ruas do Rio.

Bem que essa semana o outono até que tentou dar as caras pela primeira vez no ano na cidade maravilhosa. Mas o veranico fora de hora não deixou e trouxe novos temporais que deixaram - quanta novidade! - diversos trechos da cidade alagados.

Bem, nessas horas o melhor é manter a calma e relaxar - a não ser que você more nas imediações da Praça da Bandeira e seja comerciante. Aí não dá mesmo! Na quarta, o jornal Extra colocou duas fotos da Praça da Bandeira alagada - uma de 1964 (!) e outra da última segunda-feira, dia 25. O título dizia tudo: "Até o próximo temporal".

Mas, como dizia, devemos manter a calma. E lembrar que nossos poetas populares há muito já haviam diagnosticado o problema. Sempre que chove desta forma, me lembro de um delicioso sambinha interpretado por Moreira da Silva, dos autores Cícero Nunes e Sebastião Fonseca, já nos anos 1960. Ao gravá-la, Morengueira a transformou definitivamente num clássico.

Regravado por Jards Macalé nos anos 2000, "Cidade Lagoa" apenas constata a realidade da inapetência de nossas autoridades ao lidar com chuvas e temporais. Trata-se de uma crônica da cidade em dias de chuva forte.

No mais, como dizia o Extra, até o próximo temporal...

Cidade Lagoa

Esta cidade, que ainda é maravilhosa,
Tão cantada em verso e prosa,
Desde os tempos da vovó.
Tem um problema, crônico renitente,
Qualquer chuva causa enchente,
Não precisa ser toró.
Basta que chova, mais ou menos meia hora,
É batata, não demora, enche tudo por aí.
Toda a cidade é uma enorme cachoeira,
Que da Praça da Bandeira,
Vou de lancha a Catumbi.
Que maravilha, nossa linda Guanabara,
Tudo enguiça, tudo pára,
Todo o trânsito engarrafa.
Quem tiver pressa, seja velho ou seja moço,
Entre n'água até o pescoço,
E peça a Deus pra ser girafa.
Por isso agora já comprei minha canoa,
Pra remar nessa lagoa, toda a vez que a chuva cai,
E se uma boa me pedir uma carona,
Com prazer eu levo a dona,
Na canoa do papai.