quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Natal em tempo de mídias digitais

É Natal!! O ano está terminando e chega a hora de fazer um balanço do que fizemos ou deixamos de fazer. Dos desejos que concretizamos e daqueles que não se cumpriram. Dos amigos que ganhamos e aqueles que se foram. Os amores começados e terminados. Os momentos juntos daqueles que amamos. Enfim, o fim do ano é sempre tempo de lembrar que a vida é mais valiosa do que pensamos.

Uma das boas coisas pelas quais passei em 2010 foi ter voltado a dar aulas presenciais. Comecei em agosto a trabalhar como professor do UniFOA, Centro Universitário de Volta Redonda, nos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda. Já me acostumei com a rotina de subir a serra toda semana para o convívio com professores e alunos. A quebra em minha antiga rotina fez com que eu deixasse este blog um bom tempo desatualizado, e pretendo consertar isso em breve, com pelo menos um post semanal. Este é apenas um dos desejos que propus a mim mesmo para 2011!

A todos os leitores deste blog e em especial à turma do 8º periodo de Jurnalismo da FOA, a qual tive a oportunidade de lecionar a disciplina Mídias Digitais, deixo aqui um vídeo extremamente criativo sobre o Natal, que se baseia numa perguntinha simples: como teria sido o nascimento de Jesus em tempos digitais?

Aproveito para desejar a todos boas festas e um Feliz Natal!

Confiram:

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Toyota Hylux 2010: a história que inspirou o comercial

Como fazer uma propaganda criativa a fim de chamar a atenção das pessoas, num tempo de mídias digitais, avalanche de informações vindas de todos os cantos e atenções dispersas? Dia desses, assistindo à TV, me chamou a atenção o anúncio de um carro da Toyota, o modelo Hylux 2010 - "Hylux Invencível". Gostaria aqui de fazer um breve comentário sobre o comercial, cuja história foi inspirada num fato real acontecido no Brasil do século passado: uma época sem internet, sem televisão, e no qual a mídia mais poderosa era o rádio.

Dê uma olhada no comercial abaixo. Um homem, pilotando um pequeno avião (daqueles que, até bem pouco tempo, chamaríamos de teco-teco), enfrenta uma grande tempestade. Ele deseja aterrisar, mas não há nenhum aeroporto à vista. O que fazer? Ele faz contato com alguém, que imediatamente aciona um grupo de ajudantes - todos eles dirigindo o tal "Hylux invencível". As cenas seguintes mostram os carros desbravando um território irregular (sim, para chegar ao local que desejam, eles não dirigem por estradas convencionais, mas por morros e descampados). Enfim, chegam a um local no qual, enfileirados, deixam os faróis ligados. Do céu, o piloto consegue ver a iluminação deixada pelos carros e consegue aterrisar no local, seguido de grande comemoração. Slogan da publicidade: "Você não sabia que uma pick-up poderia percorrer tantos caminhos".



Corta para a década de 1940. O rádio vivia sua era de ouro. No começo da década, o governo Vargas emcampa a Rádio Nacional, o primeiro veículo com um grande poder de penetração em todas as grandes regiões brasileiras. Era a "TV Globo" da época. Seu poder e alcance seria posto à prova numa noite, na qual um avião da Força Aérea Brasileira - um Boeing b-17 - depois de cruzar a Floresta Amazônica com 14 pessoas, viu-se sem conseguir pousar no aeroporto de Campo Grande, devido à queda de energia no local. Alertado sobre o drama do avião sem local para pousar, um oficial da base aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, telefona para a Rádio Nacional e pede que o locutor transmita uma mensagem aos moradores da região:

"Atenção, Campo Grande! Atenção, Campo Grande, em Mato Grosso! Uma fortaleza voadora da FAB precisa aterrisar, mas o campo de pouso está às escuras. Os moradores da cidade devem ir com seus automóveis para o aeroporto a fim de iluminarem as pistas de pouso com seus faróis."

Aquele pedido, feito no estúdio da Rádio Nacional, no Rio de Janeiro, atravessou as regiões e chegou aos moradores de Campo Grande, que acataram o pedido. Apenas meia hora depois, o Boeing da Força Aérea conseguiu pousar em uma pista do aeroporto, iluminada por faróis de dezenas de automóveis.

Obviamente não eram todos utilitários como o modelo da Toyota. Estávamos na década de 1940, lembram? Com certeza a maioria dos motoristas que ouviu o locutor pelas ondas do rádio também não precisou subir montes e caminhos inóspitos para chegar ao local, preferindo pegar a rodovia local. Essas liberdades poéticas só estão no anúncio da Toyota e no mundo da publicidade. O caso real de Campo Grande, porém, virou lenda e foi contado de pai pra filho nas décadas posteriores (a história pode ser conferida no livro Rádio - veículo, história e técnica, de Luiz Carlos Ferrareto). Até chegar certamente aos ouvidos de um publicitário no ano de 2010, que utilizou o fato como inspiração para um criativo comercial.

Duas lições ficam para quem se interessa por comunicação: primeiro, que tenham ciência do grande poder de penetração do rádio na primeira metade do século XX. Segundo, que boas histórias - ainda que aumentadas ou "distorcidas" para conseguir um resultado mais sedutor -, serão sempre fortes componentes para a indústria da propaganda e o entretenimento.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Meus passeios com Tuco: no CCBB, junto ao "poço dos desejos"

Pra quem ainda não foi ao CCBB visitar a imperdível exposição do Islã - a mostra se encerra no dia 26 de dezembro, então corram! - um artefato da decoração, logo no hall de entrada, chama a atenção. Trata-se da reprodução de um pequeno chafariz com os traços da cultura islâmica. Há ali também o cenário de uma entrada de mesquita, que atrai jovens e adultos para tirarem fotos. Mas o que tem mais atraído a atenção da molecada é o tal chafariz, com água de verdade e...repleto de moedinhas dentro. Seria um poço dos desejos?

Não sei quem jogou a primeira moedinha dentro do "poço" e fez um desejo, nem tenho certeza se a ideia do poço dos desejos, dentro de nosso imaginário ocidental, veio da cultura islâmica. O interessante é que o tal poço, desde o começo da exposição, revelou-se um grande sucesso, e chegou até a virar notícia dia desses no Globo, que chamava atenção para o fato de que não só crianças, mas também adultos, ao adentrarem o hall do CCBB, reservavam uma moedinha para jogar no poço e fazer um desejo. Prova de que, em tempos nos quais o realismo invade nosso cotidiano de forma violenta, na forma de invasões de favelas e carros incendiados, não há nada de errado em apelar um pouco (nem que seja só um pouquinho...rs) para que nossos desejos se concretizem: sejam eles de paz, de mais grana, um novo emprego, a busca por um novo amor etc.

Confesso que resisti à tentação de jogar uma moeda no poço. Só que, quando meu filho olhou para aquelas moedinhas dentro do local e quis saber qual o motivo, insistiu para jogar uma moeda também. Gostei da brincadeira e coloquei a mão no bolso. Havia apenas uma moeda: de 1 real. A maioria das moedas no poço decorativo não chegava a 25 centavos...mas, ora, qual o pai há de resistir a brincadeira tão lúdica?

Expliquei ao Tuco para antes fechar os olhos, pensar num desejo e jogar a moeda.
Antes, ainda olhei para ele e brinquei: "cuidado com o que vai pedir, heim! papai te deu a melhor moeda".

Tuco fez direitinho o que ensinei: se aproximou do poço, fechou os olhos (um tanto rápido demais) e jogou a moeda de 1 real lá dentro. Voltou feliz. Dei a mão a ele para continuarmos andando. Mas não resisti à tentação de perguntar-lhe o que havia pedido.

"Um salsichão".
"O quê?!"
"Sim, papai. Pedi um salsichão!"
"Mas com tanta coisa pra pedir, Arthur, você me vem com um salsichão!"
"Mas eu gosto de salsichão..."

Foi aí que percebi que seria demais pedir desejos "mais elevados" a uma criança de 5 anos, que adora brincar, ir à piscina, ver desenhos de super-heróis e...comer salsichão!

Naquele dia nem vimos a exposição completa. Era a primeira semana e o CCBB estava lotado. Mas, como sempre, valeu o passeio. No fim de semana, renidos à mesa, na casa de meus pais (que se divertiram com a história), contei de novo para minha irmã, que estava ali com sua filha Juju, de 4 anos. Minha irmã riu muito e chegou a dizer, olhando para o Arthur, "Só você, Tuco, só você...rs".

Só ele? Será? Não resisti e perguntei à Juju, que ficou interessada na história do poço dos desejos, qual seria o pedido dela, quando visitasse a exposição.

Julinha nem pensou muito: "um queijinho no espeto!". Olhei para minha irmã, que também riu com a resposta da filha.

E seguimos com nosso fim de semana. Afinal, nada como o desejo inocente de uma criança - um desejo ainda livre de tanta brutalidade e banalidade cotidiana - para nos permitir um pouco de felicidade numa tarde quente do Rio.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Flanando pelo Centro do Rio, com Keith Haring e o "grande líder".

Quarta-feira de outubro. Final do Festival do Rio. Perambulo pelo Centro da cidade, visando conferir a exposição de Keith Harring e pelo menos algum filme do festival. Confiro o trabalho de Keith, um grande artista que levou seus desenhos aos metrôs e depois às ruas de Nova York, morto em decorrência da aids em 1990. Genial. Haring era uma talentoso desenhista, nascido na Pensilvânia, que virou um grande artista ao mudar-se para Nova York e ingressar na School of Visual Arts. Observando a efervescente e alternativa comunidade artística, Haring encontrou nos corredores do metrô de NY o espaço ideal para aumentar seu público: ali, ao notar painéis de publicidade vazios, cobertos por papel preto fosco, pensou: é ali que vou deixar minha arte. Aos poucos as pessoas começaram a parar, entre a espera de um trem e oputro, para observar aquele rapaz tímido, que às vezes chegava a pintar quarenta "desenhos de metrô" num só dia, segundo o belo livrinho que é dado ao visitante na exposição, "O livro da vida".

Keith Haring morreu cedo, aos 31 anos. O artista se foi, mas sua arte, que pulou os muros da universidade e invadiu ruas e metrôs, está viva em exposições e também no cenário livre das ruas de Nova York, como o famoso painel Crack is Wack.



Saio da Caixa Cultural, onde rola a exposição, e caminho em direção ao Centro Cultural Justiça Federal, na Cinelândia. É meu refúgio em período de festivais: ali sempre tem filmes razoáveis e com lotação não esgotada - quem mora na Zona Norte e decide conferir um bom filme em Botafogo sabe que a chance de voltar pra casa após dar com um "esgotado" na fila do cinema é bastante grande.

O filme que quero ver já foi escolhido com antecedência. Trata-se de "Um espetáculo para o grande líder", documentário em tom fake dinamarquês que retrata a viagem de um grupo de atores à Coreia do Norte com o objetivo de apresentar uma peça, visando um intercâmbio cultural entre os dois países. No entanto, o tal "intercâmbio" é apenas um pretexto para penetrar num dos regimes mais fechados do mundo: a proposta do diretor Mads Brügger(e também narrador do filme), é apenas uma: expor e denunciar a ditadura coreana ao resto do mundo. Como? Através daquela que para ele é uma grande forma de contestação: a comédia.




Grande Prêmio do Júri no Festival de Sundance em 2010, o filme é na verdade um exercício de estilo no qual qualquer menção à objetividade ou imparcialidade deve ser jogada de lado. O tal espetáculo a ser preparado para o grande líder é uma comédia no estilo do teatro bufão, onde os únicos atores são dois jovens, Jacob e Simon, de origem coreana e que foram adotados por dinamarqueses desde cedo. Assim, o diretor e sua troupe conseguem entrar sem problemas na Coréia do Norte.

Sem problemas, mas com vigilância total. É escalada uma senhora que irá seguir os passos do grupo por onde forem. A senhora se afeiçoa por Jacob, o mais jovem dos atores, que também é deficiente, algo a princípio não tolerado na Coreia. Há uma cena hilária logo no começo, quando os dois atores se apresentam num parque coreano para uma comitiva de burocratas norte-coreanos - todos estes fazendo cara de pasmo total ante a bufonaria apresentada no palco, com direito até à versão de "Wonderwall", do Oasis, ao final. Pressentindo a tragédia, o diretor começa a falar em fazer as malas e voltar para a Dinamarca, quando...o espetáculo é aprovado!

Mas, na Coréia do Norte, nada é tão simples. Sob pretexto de tornar a peça mais palatável para o público norte-coreano, os burocratas do partido começam a dar palpites recorrentes no espetáculo, até quase o desfigurarem por completo. Apesar das tentativas de argumentação, o diretor segue as recomendações dos burocratas. Chega uma hora em que todos da equipe parecem estar representando: os dois atores, que preparam a peça sob vigilância, o diretor e equipe, que seguem seu roteiro de visitas aos marcos da ditadura norte-coreana, e até os burocratas, que representam, fidedignamente seu respeito supremo ao "grande líder", o ditador norte-coreano Kim Jong-il.

O mais impactante está por vir. Muito bem tratado pelo povo norte-coreano, o deficiente Jacob (de raízes coreanas, vale repetir) identifica-se com o povo e começa a questionar as reais intenções do diretor, que pelo menos na narração em off, trata sempre de desmistificar o cenário norte-coreano e sua ditadura socialista. Ao serem convidados a assistir uma marcha gigantesca de soldados coreanos, "em homenagem ao grande líder e contra o imperialismo norte-americano" Jacob recusa-se a bater palmas e a saldar com a mão estendida e punhos cerrados a marcha, deixando o diretor desconcertado. Os dois chegam a discutir: o ator manda o cineasta parar de mentir; ao que o diretor retruca que deve continuar mentindo, "para o bem do filme".

Ao final a peça finalmente é apresentada, com todos os cortes, modificações e censura efetuados pela equipe de burocratas. É um sucesso. Na despedida, a senhora responsável por acompanhar diariamente a equipe ensaia um choro e abraça Jacob. O diretor ainda deixa uma cartada final para este últimos momentos, ao tentar fazer Jacob perguntar à senhora norte-coreana onde ele poderia encontrar deficientes como ele, já que em toda a passagem pelo país ele não havia visto nenhum. Mas Jacob deixa a pergunta pela metade, e a senhora coreana dá uma resposta evasiva. Ao subirem os créditos, uma pergunta incômoda não pode deixar de ser feita: quem manipula quem na obra de arte? E na vida real?

Saí do cinema satisfeito com o instigante filme e com uma pequena dúvida: seria possível a arte de um artista como Keith Haring - homossexual, e que representou muito de sua arte nas ruas? Não teria sido mais um a ser perseguido pelos acólitos do "grande líder"? Fica a questão. A história já demonstrou que a arte pode se desenvolver em qualquer espaço, mesmo em regimes totalitários. Mas para que ela floresça de verdade e alcançe o público, é sempre bom optar pela democracia. Mesmo sendo esta, a exemplo da arte, sujeita às mais diversas "representações".

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Marginal Interrompido, ou O fascínio e o vício das redes sociais

Caro leitor: por pouco você não lê esse blog com outro título. O motivo de minha ausência por quase dois meses (uma eternidade, em se tratando de um blog!) foi o fato de o terem confundido inadvertidamente com um blog de spams (?!). Sim, meus caros, este humilde espaço, que é totalmente a favor da liberdade de expressão, foi rigorosamente fechado com tranca e tudo por pouco mais de um mês, enquanto os investigadores do BLOGGER decidiam se ele era realmente um 'spanador" ou não! Que situação...

Até pensei em criar outro blog, alternativo, com o nome de "Marginal Interrompido", na esperança de que o restaurassem mais rápido. Mas enfim, estou de volta, para gáudio de alguns e desdém de outros, pronto para discutir discutir comunicação, música, cinema, cultura pop e o que mais rolar. Vamos que vamos!

Por hora, como o tempo é curto, gostaria de discutir rapidamente sobre um tema que é pule de 10 em qualquer discussão sobre o papel da Internet e das mídias sociais em nossa terra brasilis: a adesão incontrolável de grande parte dos internautas brasileiros aos sites "sociais". Sim, nosso país apresenta um dos maiores índices do mundo no número de adeptos de redes sociais como orkut, facebook, twitter sonico, myspace etc.

Não há dúvidas de que a Internet deve ser encarada hoje como uma nova mídia que apresentou uma mudança não só tecnológica, mas também cultural e comportamental em grande parte do mundo conectado. Hoje já se comenta sobre como será o futuro comandado pelos chamados "nativos digitais", ou seja, os jovens nascidos no começo dos anos 90 e que cresceram com a internet por perto. São jovens que fazem parte de uma geração multitarefas, que não respeitam hierarquias, veem muitas diferenças entre ler um livro físico e outro online, acreditam no download para obter músicas, vídeos e filmes imperdíveis e dão de ombros para os tradicionais direitos autorais - para eles, copyleft é algo que diz muito mais do que o "antigo" copyright (todos os direitos reservados).

(Que direitos, se a internet é livre para todos? Uma das intenções deste blog é discutir comunicação e filmes, músicas, livros que este blogueiro acha interessante e gostaria de compartilhar com quem passa por aqui. Uma coisa é copiar um artigo de um jornalista ou escritor e publicar como se fosse de minha autoria, o que seria lamentável; outra é buscar discutir artigos e citar o nome do autor, que é o que faço quando comento artigos ou deixo links para vídeos do youtube. Ajudando a propagar coisas interessantes para quem se interessa por cultura, e não propagando spams por aí afora inadvertidamente... ouviu, Blogger?)

Mas voltemos ao ponto que realmente interessa. Nesta nova sociabilidade advinda com as mídias digitais, muitos internautas ficam viciados nesse admirável mundo novo, e já não conseguem imaginar suas vidas sem o acréscimo das mídias sociais. Mas será que a felicidade está mesmo em viver conectado? Há algum tempo atrás havia um anúncio de telefone celular que dizia, "já não dá pra viver hoje sem ter um celular!" Como assim? É verdade que há pessoas até paranóicas, que tem não um, mas três ou mais celulares com números diferentes (família, trabalho, namorada, amante...). Mas também há gente que só usa o aparelho para o essencial - fazer ligações telefônicas, lembram dessa função?

Com as mídias sociais ocorre algo parecido. Pessoas que ás vezes deixam de ir às ruas encontrar um amigo, não aparecem em determinado evento, justamente para "atualizar o orkut" ou "tuitar" a manhã ou a tarde inteira. Sim, meu lado conservador poderia mandar para o diabo que as carreguem as tais redes sociais, mas meu lado marginal concorda que há ali muita coisa interessante - a despeito do grande número de abobrinhas nos trend topics do Twittter.

Há coisa de dois ou três meses a Época lançou um caderno especial sobre as redes sociais. Havia ali um artigo que informava sobre um suicídio coletivo no Facebook. O tal "suicídio" nada mais era que a decisão de alguns internautas americanos em abandonar o site, incomodados com a falta de privacidade. Muitas pessoas se esquecem de que as informações ali contidas são compartilhadas por milhares, milhões, e uma opinião preconceituosa - ainda que seja uma piada - pode repercutir mal até entre os patrões e custar o emprego de alguém. O fascínio desmedido e sem critério pelas novas redes sociais deve ser um alerta para os desavisados. Cada mídia é o que a gente faz dela.

Por hora, deixo com vocês - para rir e pensar - um cartum de um autor que admiro bastante, não fosse ele também um verdadeiro "marginal" entre os desenhistas/cartunistas/autores de quadrinho brasileiros. Sim, é difícil classificá-lo, pois o cara é até cineasta, e já cometeu pérolas como "Deus é pai". Estou falando de Allan Sieber, criador da série em quadrinhos "Preto no branco", do blog Allan Sieber talk to himself show. Recomendo o site e reproduzo dali a provocante história abaixo.



Eu, de minha parte, vou acabar esse post e abrir um livro. Depois vou escutar música e dar uma caminhada. São coisas boas que a vida oferece - não desprezo as novas mídias, mas acredito que as melhores "redes sociais" são aquelas formadas quando encontramos com nossos amigos de verdade.

Mas eu volto. Até o próximo post!

sábado, 31 de julho de 2010

Playing for change: a música das ruas por um mundo melhor

Na saída do metrô da Carioca, no Centro do Rio, há um homem que toca diariamente seu saxofone há mais de 25 anos.

No Central Park, em Nova York, percussionistas africanos reúnem-se toda semana para levarem um som juntos. Nunca faltam músicas do artista Fela Kuti, o lendário músico e ativista político que criou o estilo musical afrobeat.

Nas pedreiras da UniRio, no bairro carioca da Urca, todo sábado pela manhã alunos e mestres da Escola Portátil de Música reúnem-se para tocar clássicos do choro. Alguns deles estarão, no dia seguinte, na praça São Salvador, no Flamengo, tocando por prazer clássicos do samba e choro. Vários ouvintes saem dos subúrbios e dirigem-se ao bairro apenas para escutar as músicas.

Em Portugal, no centro velho de Lisboa, Dona Rosa, uma senhora cega de 53 anos, apresenta-se num canto da Rua Augusta todos os dias cantando fados. Descoberta por um empresário, ganhou fama e apresenta-se em outros países europeus. Mas não largou a rua.

Em São Francisco, na Califórnia, na agitação do Centro nervoso, outra praça consegue a proeza de fazer trabalhadores apressados pararem por uns instantes para curtirem o som que sai daquelas guitarras e contrabaixos: rock n' roll. Na mesma cidade, no Pier, se você passar por lá num fim de semana, pode dar de cara com um velho hippie munido de um violão a cantar "If you are going to San Francisco, be sure to wear some flowers in your hair", o clássico pop de Scott Mackenzie.

Em 1994, Vedran Smailovic, integrante da Orquestra da Ópera de Sarajevo, após testemunhar a morte de 22 pessoas vítimas de uma explosão durante a Guerra da Bósnia, decidiu usar sua música em prol da paz, tocando na rua por 22 dias consecutivos em homenagem aos mortos.

Numa estação de metrô nova-iorquina, dois monges vestindo túnicas brancas cantam, e tocam violão para os passantes. Não raro dezenas de pessoas costumam parar por alguns momentos apenas para ouvir os monges.

Algumas destas passagens acima foram presenciadas por mim no Rio, onde moro, ou em viagens, como os músicos de rua de San Francisco. Outras eu soube pelos jornais e revistas. São músicos que tocam nas ruas pelos mais variados motivos; mas que, por fazerem sempre um bem à alma de quem passa em frente a eles, nos leva pensar sobre o poder da música como confraternização universal, e na esperança por um mundo melhor. A música é também uma forma de comunicação, e a comunicação, a princípio, evoca a ideia de comunhão, ou seja, uma forma de compartilhar experiências. É mais ou menos essa a ideia do projeto "Playing for Change", criado pelo produtor musical americano Mark Johnson.

Durante dez anos, Mark percorreu o mundo munido de um estúdio de gravação móvel e saiu gravando músicos de rua. A ideia é forte e é a mesma que nos faz parar em qualquer viagem para escutar estes artistas, mesmo sem conhecer o idioma, o poder da música. (Sim, sim, eu sei que você pode ter pensado que usar a música para transmitir mensagens de "comunhão", "congraçamento", pode não dizer muito nos tempos cínicos em que vivemos, e quantas vezes não deparamos com picaretas sem talento tocando nas ruas por uns trocados? Mas a intenção de Mark Jonhson é encontrar e registrar músicos que estão nas ruas não pela fama ou por dinheiro, mas pela alma. Ou seja, por um sentimento irresistível de amor à música que os impele às ruas em lugares tão díspares como São Paulo ou Marrocos).

Segundo escreveu o jornalista Leonardo Lichote, em matéria para o jornal O Globo ("Muitos sons, uma utopia"), munido de seu aparato, Johnson desde então roda o mundo gravando artistas de rua - negros, brancos, árabes e muçulmanos, violoncelistas europeus e percussionistas indígenas - em seus habitats, interpretando hinos pop de paz, tolerância, amor e apelos por um mundo melhor.

Os registros já renderam um documentário em 2003, com músicos de apenas três cidades americanas, e o CD/DVD "Playing for Change: Songs around the world", com cantores e instrumentistas das ruas de todo o mundo. Inclusive do Brasil: este ano Mark Johnson esteve por três semanas no Rio e em Salvador, a procura de músicos de rua dispostos a gravarem sucessos pop. No Rio, recebeu a ajuda na empreitada do Grupo Cultural AfroReggae, que foi convidado a colaborar com o braço filantrópico do projeto, a ONG "Playing for Change Foundation", responsável pela criação de seis programas de ensino de música no nepal, África do Sul e Gana.

Deixo aqui a música "Stand by me", sucesso no youtube, no formato atual do projeto, ou seja, tocada por músicos de todo o mundo. Como explica Johnson: "Estava em Santa Monica, na California, quando ouvi Roger Ridley cantando "Stand by me" a um quarteirão de distância. Corri para assistir a sua apresentação e nunca mais fui o mesmo. Sua voz, alma e paixão nos levaram a buscar pelo mundo outros músicos para adicionar à sua gravação de "Stand by me" - essa canção transformou o projeto "Playing for Change", de um grupo pequeno de indivíduos para um movimento global de paz e compreensão. A faixa trás 35 músicos de todo o mundo. Eles podem não ter se encontrado nunca, mas conversaram pela música".

Conversaram pela música. A última frase de Johnson me faz lembrar aquelas histórias da música popular que de vez em quando ouvimos, nas quais músicos que jamais se eencontrariam se não fosse a música, ou que nunca falaram o mesmo idioma, de repente promovem encontros musicais notáveis. E faz-nos lembrar que, à despeito das diferenças culturais e das guerras inúteis, o ser humano, em todo o mundo, é muito parecido e compartilha os mesmos desejos de paz e por um mundo melhor.

"You may say I'm a dreamer", como diria Lennon. But I'm not the only one, como comprovam os 25 milhões de acessos a esta canção no youtube.

sábado, 17 de julho de 2010

Essa música me lembra uma história: Doce de coco, ou Uma homenagem a Paulo Moura

Eu devia ter uns 11 ou 12 anos, não tenho mais certeza. Mas foi mais ou menos nesta época que meus pais se mudaram. Continuamos no mesmo bairro, Ramos, mas um pouco mais distante de minha escola, onde eu terminava o antigo 2º grau. Naquele ano eu comecei a voltar pra casa, após a escola, por um novo caminho, com alguns companheiros de turma na maioria das vezes, sozinho outras tantas. Saía da escola lá pelo meio-dia e no caminho passava por outra "escola", ou melhor, a quadra da escola de samba Imperatriz Leopoldinense. Pertinho da escola de samba, havia uma casa da qual eu sempre que passava em frente diminuía os passos. Da rua, dava pra escutar perfeitamente o som que vinha de dentro: um som de um instrumento de sopro - um saxofone?, uma clarineta? eu não sabia. A pessoa que tocava aquele instrumento estava nitidamente praticando, ensaiando com afinco para mais tarde tocar para a plateia de dançarinos de uma gafieira ou para os bolsos mais afortunados presentes em uma casa mais sóbria, como o Teatro Municipal.

Somente mais tarde eu fui descobrir quem era a pessoa que soprava elegantemente aquele instrumento, e que me fazia diminuir os passos para ouvir mais um pouquinho de sua arte. Tratava-se de Paulo Moura, no curto período em que o genial músico morou no meu bairro, no começo dos anos 1980.

Creio que foi minha mãe que me contou da presença daquele músico que eu pouco conhecia. Mas a certeza de que havia um músico respeitado no meu bairro me fazia querer conhecer um pouco mais do trabalho dele. Algum tempo depois, uma de minhas tias, que adorava comemorar aniversários de forma diferente, avisou à família que iria comemorar naquele ano na Lapa. O local escolhido era o Circo Voador, onde todo domingo havia a "Domingueira Voadora", com o maestro Severino Araújo comandando a Orquestra Tabajara num baile bastante concorrido. Paulo Moura não estava lá, mas a grandeza do naipe de metais da orquestra me fez lembrar daquele tempo passado.

Mais tarde meu pai apareceu em casa com um disco de gafieira de Paulo Moura. Eu já era adolescente e, através de meu pai, um grande fã de músicas de orquestras, bossa nova e MPB, comecei a ficar mais eclético e expandir meu gosto. Uma música do disco me agradava muito. Era a primeira faixa, o fox "Mulher", de autoria de Custódio Mesquita e Sadi Cabral, um grande sucesso dos anos 40. Os dois ou três primeiros minutos da gravação resumiam-se a um magnífico solo de clarineta de Moura, para somente depois entrar a voz do crooner. Perdi a conta de quantas vezes escutei aquela gravação. Outra canção que eu adorava ouvir do disco era o choro "Doce de coco", um choro simplesmente lindo.

Sim, eu sei, não são histórias brilhantes, nem muito originais. Mas resolvi contá-las depois que ouvi a notícia da morte de Paulo Moura, aos 77 anos, na clínica em que estava internado para se tratar de um câncer. Aquele homem que sem o saber alegrou meus retornos pra casa após a escola em meus tempos de garoto, se foi para sempre. Fico imaginando quem, como eu, não sorriu, dançou, amou, brigou, conversou ao som de um solo de sax ou clarineta de Paulo Moura. Quantos casais não se formaram depois de dançarem enlevados um fox-trot tocado por Paulo? Quantos brasileiros subitamente e sem o perceberem deixaram-se seduzir pelos sublimes arranjos da música instrumental dos discos do maestro, naquelas belas canções sem palavras? Quantos ignoram até hoje que o talento de Paulo Moura esteve presente em quase todos os grandes momentos de nossa música nas últimas décadas?

No ano passado, dei de presente ao meu pai o disco "Dois panos para manga", o belo encontro musical de Paulo Moura e João Donato, apenas piano e clarineta em versões instrumentais para clássicos brasileiros e americanos. Escutamos juntos o CD em casa e no carro. Não havia dúvidas: aquele menino que nascera em São Paulo na década de 1930 e que por algum tempo morara em nosso bairro era realmente genial.

Paulo Moura se foi no começo desta semana. Morreu sereno e tranquilo como sempre foi. Li nos obituários de sua morte que ninguém jamais se lembrara de tê-lo visto levantar a voz com algum músico ou esbravejar com alguém. Era de uma elegância ímpar, nos gestos e no instrumento. Pouco antes de morrer, Wagner Tiso e vários músicos amigos de Paulo o visitaram na clínica São Vicente, nde estava internado. Ali, já bastante fragilizado, Paulo pegou a clarineta e soprou por uma última vez "Doce de coco".

Hoje em dia só passo por aquela rua de carro, apressado entre o trabalho e a casa onde moro. A casa onde Paulo Moura morou ainda está lá. Sei que nunca mais ouvirei o som daqueles sopros musicais vindos lá de dentro. Mas a lembrança daquelas caminhadas de volta pra casa e do lento diminuir de passos apenas para ouvir o músico, ficarão comigo para sempre.

Adeus, Paulo Moura.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Uma atração imperdível antecede "Toy Story 3"

Finalmente consegui assistir a um dos filmes mais esperados do ano: "Toy Story 3". Quem acompanha o blog sabe que este fã de cinema que vos escreve curte bastante o cinema de animação, ainda mais se for na companhia do filho, Arthur, de 5 anos. Apesar da fila de ingressos quilométrica no UCI Kinoplex do Norte Shopping, tudo correu bem! Realmente a Pixar conseguiu fechar a série de filmes com chave de ouro. Mais que as divertidíssimas peripécias envolvendo o caubói Woody, o astronauta Buzz Lightyear e seus impagáveis amigos de brinquedo - agora acrescidos do casal Barbie e um "será que ele é" Ken (ou "metrossexual de plástico", como é chamado por um dos brinquedos), "Toy Story 3" emociona mesmo ao mostrar com rara felicidade momentos de solidão, de amadurecimento e (mais que tudo) a importância do companheirismo e da amizade.

No entanto, quem for ao cinema conferir o filme, deve chegar cedo. Pois o filme em curta-metragem que antecede "Toy Story 3", o adorável "Day & Night", também da Pixar, é simplesmente imperdível. Trata da história de duas nuvenzinhas - uma representando em seu interior o dia e outra representando a noite - que se encontram pela primeira vez, se estranham bastante e no final fazem as pazes.

Dito assim parece um tanto redutor. Mas acredite: vale a pena assistir. O belíssimo curta é um dos melhores já realizados pela Pixar, com momentos de rara felicidade visual ao juntar o encontro a princípio vacilante e depois feliz entre o dia e a noite. A nuvem dia que apresenta a garota de biquíni na praia, as flores num jardim, as crianças brincando no sol, um belo arco-íris; a nuvem noite que a confronta com as estrelas e um luar deslumbrante, os fogos de artifício numa comemoração, um belo castelo iluminado com centenas de lâmpadas. Aos poucos, as nuvens percebem que a beleza está em cada um de forma única.

Uma única frase dita pelo narrador em todo o filme resume este belo conto. Diz mais ou menos assim: "Tudo aquilo que representa o novo é motivo de medo e apreensão." Ora, por que este medo? Se repararmos bem, a frase pode servir a toda a humanidade e em especial à história da arte, onde visionários que ousaram enxergar á frente de seus tempos foram incompreendidos e alguns até mesmo perseguidos. O ser humano é por demais conservador e se apega com facilidade a fórmulas fixas. Bendito aqueles que ontem, hoje e sempre foram corajosos o suficiente para levar o novo ao mundo, fazendo com que a humanidade avance.


quarta-feira, 30 de junho de 2010

Dunga e a imprensa: uma relação conturbada

Segunda-feira, após a vitória do Brasil sobre a seleção do Chile, o técnico Dunga, como é de praxe após os jogos, compareceu à entrevista coletiva para a imprensa. Ao contrário da semana passada, quando soltou impropérios contra o jornalista da TV Globo Alex Escobar, além de ruminar palavrões que foram captados pelo áudio da Sportv, nosso técnico estava agora, aparentemente, bem mais tranquilo. Melhor assim. Depois de uma semana em que sua (má) relação com a imprensa foi discutida em todos os meios de comunicação, ensejando até um pedido formal de desculpas do técnico - aos torcedores, não à imprensa, bem entendido -, é bom esperarmos um técnico de melhor humor nas próximas entrevistas.

Enquanto o pedido formal de desculpas não foi dado, matérias em jornais, rádios e TVs foram quase unânimes em reclamar da atitude do técnico. Falo "quase" porque houve gente que gostou muito do comportamento de Dunga, dentre eles muitos que elogiam a quebra de um suposto privilégio da TV Globo na cobertura de eventos esportivos.

Esse "privilégio" não ocorreria apenas em eventos esportivos, mas em quase todos os temas que geram grandes coberturas. Quem companha este blog pode reler post semelhante que deixei aqui há mais de um ano. Apesar de editoriais da Globo falarem em "busca incessante da notícia" para justificarem as "exclusivas" que o jornalismo global quase sempre consegue, jornalistas que trabalham em emissoras rivais alegam que muitas vezes ocorre um direcionamento nas coberturas jornalísticas que acaba favorecendo a emisora líder de audiência no país.

Jornalistas que apoiam Dunga comentam a tentativa de Fátiam Bernardes e do repórter Tino Marcos em conseguir uma reportagem exclusiva com o técnico e jogadores da seleção brasileira. Atitude que, mesmo depois de a apresentadora e jornalista argumentar ter sido negociada entre o jornalista Renato Maurício Prado (do Sportv e do jornal O Globo) e o presidente da CBF Renato Teixeira, teria levado Dunga a responder: "Aqui não tem essa de entrevista exclusiva. Ou a gente fala para todas as emissoras de TV ou não fala para nenhuma".

Após esta história ter se multiplicado na internet, a Globo lançou uma nota dizendo que nada daquilo acontecera, e o tal diálogo seria na verdade apenas uma mensagem viral contra a emissora.

Quem está com a razão - Dunga com seus treinamentos fechados à imprensa, ou jornalistas da Globo e também de outras emissoras que reclamam do pouco acesso à seleção brasileira de futebol?

A questão é um tanto complexa. Não é preciso ser um expert em futebol para saber que Dunga - famoso por seu estilo disciplinador desde sua fase como jogador - fora chamado por Ricardo Teixeira para assumir a seleção justamente para evitar o oba oba que fora a estadia brasileira na Copa da Alemanha, em 2006, quando os jogadores posavam de celebridades, alguns se apresentaram fora de forma (como Ronaldo e Adriano) e não perdiam uma festinha de embalo nas nights germânicas. O acesso da imprensa era irrestrito e dona Fátima Bernardes chegou a fazer entrevistas "exclusivas" nos próprios quartos dos jogadores. Agora em 2010, Dunga só estaria colocando a coisa nos eixos novamente. Ou seja, disciplina e ordem sob a subordinação de um técnico linha dura desprovido de carisma.

Por outro lado, Dunga exagera ao limitar exageradamente as entrevistas com a equipe, ao realizar diversos treinos secretos (até contra a Coreia do Norte!!) e seu comportamento entre o sarcástico e o mal-humorado nas entrevistas. Se o problema é com a Globo apenas, por que o técnico não deixa claro logo, ao invés de "peitar" o Escobar na coletiva após a vitória?

Ainda sobre as entrevistas/reportagens exclusivas. Quem lida com jornalismo sabe também que a busca por exclusivas não é só da TV Globo. A notícia exclusiva, quando cabe um fato novo que ninguém ainda noticiou, revela-se um furo de reportagem, ou seja, tudo aqulilo que os jornais, rádios, TVs e agora o jornalismo online buscam para furar a concorrência. Notícias exclusivas, então, não são e não deveriam ser privilégio de grandes emissoras. Ainda mais agora com a ascensão cada vez maior das novas mídias, quando algo totalmente novo pode ser leado ao conhecimento de todosa por um blogueiro ou qualquer um com conta no twitter. A grande imprensa não tem mais o predomínio de ser a primeira a noticiar tudo.

O problema, então, não seria a notícia exclusiva, mas sim a alegada insistência nos supostos privilégios que a emissora - por ser a mais poderosa do país - é acusada.

Dunga tem todo o direito de preferir uma coletiva com todas as emissoras a falar com apenas uma. Mas ele poderia também dar a entrevista à repórter da Globo, desde que fizesse o mesmo com jornalistas da Band, Record e outras emissoras. Ao repórter mais competente caberia a responsabilidade e a competência pelo furo.

Nada contra exclusivas, portanto. e tudo contra privilégios, sob quaisquer circustâncias. Para que haja bom jornalismo, é necessário que as oportunidades sejam iguais para todos.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Sobre dublagens no cinema e a "grossura" de Les Grossman

No começo do ano fui ao cinema com a namorada assistir "Sherlock Holmes". Era uma sessão noturna, creio que das 21 horas. Qual não foi minha surpresa ao começar o filme e notar que desta vez não haveria legendas - o filme havia sido dublado. Nos entreolhamos, achamos estranho, mas como a maioria do público que já estava na sala parecia não reclamar, assistimos à sessão assim mesmo. Admito que na hora fiquei um tanto tanto contrariado - não me agradava ter de ouvir a voz de um dos meus atores preferidos (Robert Downey Jr.)dublada por um brasileiro. Mas, quer saber? Achei a dublagem bem satisfatória.

Na verdade, eu não deveria ter achado nada estranho. Já faz algum tempo que as distribuidoras lançam filmes de grande público em cópias dubladas e legendadas. Pesquisas feitas com o público dos blockbusters americanos mostrou que eles desejavam ver seus heróis em cópias dubladas também, e o mercado apenas seguiu a pesquisa. Daí o lançamento recente de cópias dubladas em português - e com ótima recepção do público - de filmes-pipoca como "Piratas do Caribe 3","Duro de matar 4", "Transformes 2", entre outros.

Os de grande público, bem entendido; porque aqueles filmes que se restringem ao circuiito alternativo continuam sem merecer cópias dubladas. E cá pra nós, creio que os admiradores deste circuito - os cinéfilos - em sua maioria torceriam o nariz para qualquer filme europeu ou asiático dublado. Imaginem um cinéfilo empedernido, daqueles que passam longe de qualquer blockbuster americano, entrando num cinema para assistir ao último cult-movie sul-coreano e se deparando com um asiático falando em português algo como..."qual é, meu irmão, o que tá pegando, mano"...não tenho dúvidas que o sujeito iria querer tomar alguma satisfação com a gerência.

Confesso que prefiro ver filmes no idioma original. Sou de uma geração que aprendeu a ver filmes legendados. Mas hoje não fico mais tão irritado em ter de assistir a filmes dublados, pois a verdade é que o serviço está mais profissional e melhor. Claro que há bons e maus dubladores, assim como há bons e maus filmes. O cinema hoje virou um passatempo mais de elite, e nossa cultura de "ler filmes" está sendo transferida por outra, mais receptível aos filmes dublados. Na Europa, os filmes dublados são realidade há muito tempo, e já rendeu até uma tese de doutorado sobre o tema. Como informa o jornalista Carlos Albuquerque em ótimo artigo, a dublagem no cienema já foi usada com os mais diversos interesses, desde o diretor que escolhia outras vozes que julgava mais adequadas para dublar os personagens de seus filmes (Fassbinder é um exemplo), até casos mais idelológicos, como na inusitada primeira versão para o alemão do clássico "Casablanca", na qual, através de cortes e substituição de diálogos, todos os nazistas e colaboradores da resistência do filme americano simplesmente desapareceram.

No Brasil, um dos motivos pelo qual a dublagem demorou a chegar aos cinemas -ficando por décadas restrita aos desenhos animados - estaria ao meu ver nas péssimas condições das salas de cinema até os anos 1980, época em que o cinema era realmente, como dizia a propaganda, a maior diversão: popular, com preços baixos. Faltou completar: e com salas ruins.

Quem tem mais de trinta anos sabe o que estou falando. O sistema de som da maioria das salas era péssimo e muitas vezes quem pagava o pato era o cinema brasileiro. Lembro de ter ido ver nessa época o filme nacional "O grande mentecapto", num cinema de rua, que obviamente não existe mais. Não consegui entender ou ouvir a metade do que os personagens diziam, devido ao som abafado. Na saída, ainda ouvi alguns espectadores lamentando a precariedade do filme nacional.

Enquanto espectadores brasileiros reclamavam injustamente contra a precariedade do som nos filmes nacionais, alguns diretores daqui aproveitaram a dublagem em seus filmes de forma original. Tal qual Fassbinder, um cineasta brasileiro que adorava mexer na dublagem de suas criações era Ivan Cardoso, o maior nome do "terrir" nacional. Lembro que por ocasião destes festivais de cinema, a organização programou alguns filmes nacionais para serem exibidos na praia. Eu estava em Copacabana quando foi programado o filme "O segredo da múmia", uma hilariante comédia onde havia um personagem, vivido por Evandro Mesquita, que era dublado no filme pela voz do Robin (!). Sim, por aquele mesmo dublador da série "Batman e Robin" das antigas. Numa cena inesquecível, Evandro/Robin é preso pelo vilão e deixado numa cela com várias mulheres - todas nuas. A frase de espanto do personagem com certeza jamais seria dita pelo Robin da TV: "Puta que pariu!!!"

Nem preciso adiantar que quando todos caíram na gargalhada quando ouviram tal palavrão sendo dito pela voz do Robin. Santa grosseria, Batman!


***

Vem mais groseria aí. Minha boa vontade para com filmes dublados melhorou um pouco depois de, por um incidente doméstico, ser obrigado a assistir ao filme "Trovão tropical", dirigido pelo comediante Ben Stiller em uma cópia da locadora dublada. Eu havia alugado o filme por indicação de um amigo, mas confesso que até a metade estava achando bastante enfadonho. Nem a presença de Robert Downey Jr. no papel de um soldado negro (!) revoltado me chamava a atenção.

Foi então que, lá pela metade do filme, que eu assistia com legendas, como sempre faço, o som em inglês começou a dar problemas. Depois de retirar a cópia, limpá-la e mesmo assim o problema continuar, vi que a única forma de conseguir assistir à minha sessão doméstica seria vendo/ouvindo em português mesmo. Foi então que tive duas surpresas hilárias.

Primeiro: o filme dublado em português, com toda a grossura do roteiro e sua profusão de fucks! sendo dita em altos e bons palavrões em português deixava a fruição da trama muito mais divertida! E em segundo lugar, um personagem que surge do meio do nada me fez dar boas gargalhadas até o fim do filme. Tratava-se de Les Grossman (atente para a ironia do nome), um executivo dono de estúdio gordo, careca, mal-educado, supergrosso e vivido por um ator que já fora considerado o protótipo do galã de cinema-bom moço: Tom Cruise!

(Entre parêntesis: considero Tom Cruise uma das figuras mais intrigantes do cinema americano. Tudo bem, ele pode ter mil problemas com fãs, superstições e tudo o mais, além de ser embaixador daquela curiosa religião, a cientologia, que entre outras coisas prega termos sido colonizados por extraterrestres. Mas volta e meia aparece com uma atuação espetacular. Não acreditam? Então confiram a performance do ator em "Entrevista com o vampiro", "Colateral", ou simplesmente aquela que é sua melhor, em "Magnólia").

Quem viu o filme "Trovão tropical" sem atentar para os créditos, com certeza não notou que aquele executivo com um vocabulário supergrosso e disparando impropérios a cada segundo era de fato Tom Cruise. Mas era. No meu caso, devo admitir que ouvir o derramar de grosserias do personagem em bom (?) português foi uma experiência hilariante. E a atuação do ator foi tão elogiada (e engraçada) que será agora levada novamente aos cinemas. Sim, Les Grossman terá um longa-metragem só dele.

Não sei se tem a ver, mas a notícia foi dada justamente após Les Grossman participar da entrega dos prêmios da MTV Movie Awards, dançando com Jennifer Lopez e ofuscando terrivelmente a duplinha de galãs-mirins da série "Crepúsculo". Confiram aqui o diálogo de Grossman com o ator de Crepúsculo Robert Pattinson, que virou comercial de sucesso nos EUA. Pena que não achei a versão dublada...





Não é nada, não é nada, já é hora de sermos mais tolerantes com as dublagens bem feitas. mesmo que seja para presenciarmos as grosserias politicamente incorretas de um personagem como Les Grossman.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Sons da Copa: a Vuvuzela, o "pássaro" Galvão e o "Mandelation"

Segundo Sartre, o inferno são os outros. Para dar um adendo, o inferno são os outros soprando vuvuzelas.
Luís Fernando Verissimo

Deu no Informe JB:

Vuvuzela, não!
Para se livrar do barulho das vuvuzelas em jogos da Copa, um alemão conhecido como Tube, dono do blog Surfpoeten, decidiu investir num software que filtra a frequência da maldita corneta. Ele transfere o áudio da TV para um computador com um programa especial, que rejeita as frequências mais, digamos, enlouquecedoras.

Vuvuzela, não! 2
Usuários de IPhone podem (mas não façam isso!) baixar 11 aplicativos com sons de vuvuzela. O toque "Vuvuzela 2010", por exemplo, já foi baixado mais de 750 mil vezes. Realmente, há gosto para tudo.

Não tem jeito mesmo: esta Copa será definitivamente lembrada - para o bem ou para o mal - como a "Copa das vuvuzelas". Lembro que a primeira vez que ouvi o som das cornetas africanas foi na final da Copa das Confederações, em 2009. Naquele mesmo dia, minha mãe, ao passar perto da TV, achou que havia algum problema com o som do aparelho. Parecia uma invasão de insetos, algum tipo de praga.

- A televisão está com um som estranho, reparou? Será que está bem sintonizada?
- Está sim. Este som é o das vuvuzelas.
- E o que é isso?
- São as cornetas africanas, tocadas pela maioria da torcida no estádio.
- Que som horrível!
- Pois é...

Pelo menos não somos apenas nós, brasileiros, que estranham e se incomodam com o barulho das vuvuzelas (nem todos, é claro, como mostra a segunda notinha acima). Na festa de abertura da Copa, ela foi terminantemente proibida, para não abafar o som das estrelas pop. Mas no dia dos jogos é que a coisa pega: as cornetas praticamente só se calam na hora dos hinos oficiais dos países. Andei lendo que há jornalistas brasileiros levando protetores de ouvido para os estádios.
E já há até explicações científicas que tentam desvendar porque a vuvuzela incomodaria tanto. O mesmo JB, no artigo "A vuvuzela e a ciência da zoeira", o britânico Trevor Cox, presidente do Instituto de Acústica do Reino Unido, resume:

- Uma única vuvuzela, tocada por um músico competente, remete a um som ancestral, como o de uma trompa de caça. Mas o som é menos agradável quando é tocada por um fã de futebol, já que as notas são imperfeitas. Além disso, cada torcedor toca com uma intensidade e frequência diferente, causando uma zoeira, parecida com o zumbido de insetos ou um berro de elefante.

Berro de elefante? Uma corneta apenas não faz verão, mas centenas em uníssono lembram mesmo uma manada de elefantes. Claro que sempre surge alguém que tenta se dar bem: um jogador holandês escapou de ser expulso depois de fazer um gol com o jogo já paralisado, ao avisar para o juiz que não escutou o apito por conta do barulho das vuvuzelas. E depois de várias reclamações, a Fifa estuda proibir a malfadada corneta.


Sei não. A princípio sou contra. Estádios são lugares de jogos e também de festa nas arquibancadas. Em todo o mundo há torcidas que levam não só cornetas mas vários outros instrumentos e fazem um fuzuê danado. Por que proibir logo a vuvuzela? Podemos achá-las chatas, mas os africanos, nossos anfitriões nessa Copa, adoram.

***

Voltando às duas notinhas que abrem esse texto, é interessante notar como nos dois exemplos, ainda que antagônicos, há ali algo em comum: ao se referir a um blog e celulares modernos eles refletem a força das novas mídias na contemporaneidade, que entram sem pedir licença, mudando comportamentos, sugerindo novas pautas na mídia tradicional (né mesmo, JB?), levando-nos ao encontro de uma nova realidade.

Na última Copa, não havia celulares 3G, o Youtube ainda engatinhava e o Twitter nem havia surgido. Com a velocidade que as novas redes sociais se instalaram e o avanço da internet no Brasil, muitos hábitos mudaram. Duas recentes pesquisas divulgadas por Gilberto Dimenstein e sua coluna na CBN comprovam tal afirmação. Hoje o Brasil seria o campeão mundial no uso de redes sociais, com o Orkut ainda reinando soberano no topo dos preferidos. A outra pesquisa, segundo Dimenstein, foi feita entre jovens brasileiros de 16 a 24 anos, inclusive da classe C, e verificou que ali a internet chega a competir com a TV aberta.

Daí o imenso sucesso da campanha "Cala a Boca Galvão" no Twitter, feita "em homenagem" ao locutor global Galvão Bueno, e que desde o início da Copa figura entre os tópicos mais acessados da rede social, chegando até ao primeiro lugar dos assuntos mais comentados. Americanos e europeus, é claro, não entenderam nada. Para "explicar", gaiatos brasileiros (vem cá, neguinho não tem mais nada pra fazer não? rsrs) informaram que o 'galvão' seria um pássaro brasileiro ameaçado de extinção, e que o nome da campanha na verdade queria dizer "Save galvão birds". Outros, ainda mais imaginativos, deduziram que seria o nome de uma nova canção de Lady Gaga, deixando o fã-clube oficial da moça ouriçadíssimo sobre o vazamento na rede de um suposto novo hit da performática cantora...


***

Mas qual seria a origem das vuvuzelas, a despeito de todas as explicações científicas? A melhor explicação que ouvi até agora foi feita pelo colunista José Simão, na Band News: a vuvuzela seria filha bastarda de um relacionamento de Galvão Bueno com uma boneca inflável (!). Daí o singular "É tetraaaaa..." do Galvão torcedor (ops, locutor) combinar tão bem com o barulho ensurdecedor das cornetas.

***

Vuvuzelas berrando nos estádios, Galvão Bueno confundido com um pássaro, Lady Gaga e por aí vai...quantos sons nos chamam a atenção nessa Copa! Por hora, fico com um som bem mais agradável e divertido do que as vuvus ou a locução do Galvão. Me refiro ao "Mandelation" - mistura de "Rebolation" com homenagem a Nelson Mandela, criado (quem mais?) por torcedores brasileiros na África do Sul. Divirtam-se e até o próximo post.


quarta-feira, 2 de junho de 2010

Sobre leis inúteis e inusitadas

Tomei a liberdade de tecer alguns pitacos sobre a malfadada "Lei da Palmada" que alguns nobres deputados querem tornar realidade aqui em nosso país das contradições. Alguns não, a autora da emenda tem nome e se chama Maria do Rosário, do PT do Rio Grande do Sul. O projeto de lei 2654/03 altera o Estatuto da Criança e do Adolescente estabelecendo que a criança não pode receber nenhum tipo de punição corporal, moderada ou não. Seria o fim do "um tapinha não dói"? Mas como descobrir se os pais bateram ou não na criança? Segundo a lei, qualquer um pode fazer a denúncia (quem? vizinhos? fofoqueiros de plantão? dedo-duros de todo tipo?), com a punição consistindo de cursos de orientação pedagógica dados pelo Estado e até tratamentos psicológico e psiquiátrico.

Cabe aqui uma perguntinha: o Estado não estaria se excedendo na administração de seu poder sobre a população?

Passando os olhos por alguns blogs, aconselho a leitura do artigo "A 'Lei da Palmada' pode ir para o Senado", de Guilherme de Carvalho, autor do blog Ideia Fiksa. Cito um trecho:

"O discurso da deputada reflete uma hipocrisia estrutural: o Estado mantém seu poder para agir violentamente contra os pais que desobedecem ao Estado, mas nega tal poder aos pais. Temos então na verdade uma extensão do poder de polícia para o interior da vida familiar. Não é que a questão da palmada não possa ser discutida; é que o Estado não pode impor uma solução de engenharia social goela abaixo da população."

Se serve de consolo, o Brasil não é o único país a criar mais uma lei inútil. Vejamos algumas curiosas, pinçadas do blog Elite Paralisante, com outras pescadas na internet e também no rádio - quiçá hilárias:

- Na França, é proibido batizar um porco com o nome de Napoleão.

- Na Alemanha, é proibido andar de máscaras pela rua.

- Na Noruega, é proibido castrar cães ou gatos, mas sim a qualquer outra espécie, inclusive homens.

-Na Inglaterra, é ilegal pendurar roupa de cama na janela.

- No Líbano, os homens podem ter relações sexuais com animais, desde que sejam fêmeas. Se for com machos pode ser castigado com a morte.

- Em Haifa (Israel) é proibido levar ursos à praia.

- No Canadá é ilegal tirar curativos em público.

Tá achando estranho? Pois veja estas leis de algumas cidades nos Estados Unidos...

- Na Virgínia é proibido sexo anal e oral. (melhor de assistir que palmadas)

- Em algumas cidades, é proibido roncar. (ãh?)

- Em outras, é proibido andar de bicicleta a mais de 100 km/h. (essa nem participante do iron man!)

- No sul, é proibido amarrar jacarés nos hidrantes. (!?!?)

... e, por fim, a melhor de todas:

-Em determinada cidade americana, é proibido levar um jumento para a banheira.

Bem, depois disso tudo, começo a achar que a "lei da palmada" não é tão estranha assim. Mas torço por sua inutilidade. Já temos problemas demais, não é mesmo? Só tenho receio de uma coisa. Se na França os porcos não podem ser nomeados de Napoleão, e sendo a Dilma eleita, será que haverá alguma lei proibindo as crianças de colocarem o nome dela em algum bicho?

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Um passeio pelo World Press Photo


Em junho de 2009, após os resultados da votação para presidente do Irã, que reelegeu o controverso Mahmoud Ahmadinejad, o país foi marcado por grandes manifestações de rua. Partidários do candidato derrotado, Mir Mousavi, acusaram o governo de fraudar as eleições e organizaram várias passeatas, muitas delas reprimidas violentamente pelas tropas de repressão. Num regime fechado e que proíbe a entrada de jornalistas estrangeiros, o mundo ficou sabendo em grande parte do que acontecia nas ruas pelos recados e vídeos postados em redes sociais como twitter e o youtube, por iranianos indignados. Naquele mês, uma cena trágica correu o mundo, via youtube: mostra o instante da morte de uma iraniana numa manifestação, após ser atingida no peito por uma pedra.

Porém, os protestos contra o resultado das eleições não se deram apenas nas ruas. Nos dias que se passaram ao resultado, à noite, os telhados de Teerã foram tomados por mulheres que gritavam "Deus é grande", "Justiça!", em protesto contra o resultado das urnas. Uma destas cenas foi captada pelo jornalista italiano Pietro Masturzo. A imagem - nada óbvia mas altamente simbólica do grito de revolta no interior de um país totalitário - foi considerada a melhor do ano de 2009 pelo júri do World Press Photo. Ela e mais 161 fotos estão na mostra em cartaz na Caixa Cultural, no Centro do Rio. Uma verdadeira viagem fotográfica registrada pelos olhares dos fotógrafos nos quatro cantos do mundo.




São imagens diferenciadas e que fogem do lugar-comum para ir da beleza à tragédia, do espanto à incredulidade. Muitas nos causam revolta; outras humor. Há a mãe americana a levantar da cama o filho que perdeu 40% do cérebro num bombardeio no Iraque; os dois homens que se escondem atrás de um camburão de lixo, tendo à frente uma grande batalha de rua entre policiais e manifestantes; a incrível foto submarina de um martin-pescador no exato momento em que o pássaro alcança o peixe; o ritual de esquartejamento de um elefante encontrado morto na África por nativos esfomeados; um festival de música pop nos Estados Unidos repleto de neohippies e que poderia muito bem ser confundido com Woodstock; a curiosa série de crianças andróginas na Holanda (quando ficamos em dúvida sobre quem é menino e quem é menina); a inusitada e por vezes hilariante característica dos ricos africanos que viajam à Paris para comprar roupas europeias e, na volta, posam à caráter, virando celebridades locais. Do Brasil, há somente uma foto, de Daniel Kfouri, que retrata um salto do skatista brasileiro Bob Burnquist.

Mostrando que estão antenados com a emergência das mídias sociais, a imagem da mulher morta nos protestos de rua em Teerã e que parou no youtube ganhou "menção especial" do júri e está presente à mostra.

São fotos que nos fazem pensar e questionar a grande aventura humana pelo período de um ano. Para chegar ás 162 fotos premiadas, o júri recebeu mais de 100 mil fotos, enviadas do mundo todo por fotógrafos de 128 nacionalidades. Fico imaginando quantas outras tão belas devem ter ficado de fora, numa mostra em que o impacto de contar uma história através de um instantâneo fotográfico não deixa absolutamente nenhum visitante imune. Captar a atenção do indivíduo, fazendo com que ele se interesse pelo contexto e a carga de informação que aquela imagem carrega é um dos principais emblemas do bom fotojornalismo.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Essa música me lembra uma história: "Faroeste caboclo"

Tenho andado distraído, impaciente e indeciso...Eu poderia repetir os versos de Renato Russo em "Quase sem querer" pra justificar o meu lapso em não ter escrito até agora nada sobre os 50 anos de vida que o cantor e compositor da Legião Urbana estaria fazendo agora em 2010. A data tem sido lembrada em inúmeros sites e jornais, e homenagens àquele aque foi um dos maiores ícones do rock brasileiro dos anos 80 não faltam. Algumas originais, como o livro organizado pelo poeta Henrique Rodrigues - "Como se não houvesse amanhã", com contos inspirados nas canções mais emblemáticas da Legião - e outras duvidosas, como a iniciativa de juntar num CD gravações póstumas de Renato cantando "em parceria" com artistas de hoje - mesmo que algumas gravações novas soem bem, fica a dúvida se o artista - que detestava coletâneas - autorizaria tais versões.

Bem, há vários livros contando a vida de Renato e a história da Legião Urbana. Quem quiser escutar mais de suas canções, os CDs continuam todos em catálogo (há a previsão de serem lançados também em vinil!) e vendendo bem em plena era dos downloads gratuitos. Então, peço licença para trazer de volta a série "Essa música me lembra uma história", com um fato que me ocorreu quando adolescente e que teve uma música da Legião como coadjuvante. O ano: 1987. A música: "Faroeste caboclo".



Eu tinha 17 anos e o Rock in Rio, dois anos antes, impulsionara o mercado nacional para as bandas de rock tupiniquins. De uma hora pra outra, centenas de bandas surgiram e muitas de repente tinham a felicidade de ouvir aquela gravação feita de modo rudimentar, dentrode uma garagem, numa fita cassete, tocando nas rádios. Em Niterói, A Rádio Fluminense FM, autointitulada "Maldita", só tocava rock e era venerada por todos que se entusiasmavam com as novidades do gênero. Outro point roqueiro da cidade era o Circo Voador, na Lapa, ounde eu já tinha ido algumas vezes. E em meados daquele ano tivemos a noticia de que a Legião, prestes a lançar seu terceiro disco, iria tocar novamente no Circo. Mesmo sendo dia de semana (uma quarta-feira) não dava pra deixar de ir. Então, seguimos eu, meu irmão e um amigo para o Circo.

Falava-se que o gruipo iria testar algumas músicas novas junto a plateia, que naquele dia era bem peculiar. Na verdade tratava-se de uma dobradinha entre a Legião Urbana e o grupo paulista de punk-rock Cólera, e por esta razão havia muitos punks por lá. Não eram "de butique", eram punks reais e estavam mais lá por causa do Cólera do que da Legião, a quem muitos acusavam de estar ficando "pop demais".

Por volta das 23h a Legião entrou no palco. Renato usava botas pretas, semelhantes às de muitos punks presentes e um coturno militar. Saudou a plateia e a banda começou a tocar. Após uma das primeiras músicas, o cantor grita para o público:

- Vamos comemorar. Hoje morreu o inimigo do Brasil!!

- Yeah!! Repetimos todos, e a banda atacou de mais um sucesso.

Eu, no entanto, fiquei preocupado: quem seria o tal "inimigo do Brasil" que havia morrido? Imaginei que muitos ao meu lado que gritaram yeah! também desconheciam a resposta.

Um cara que estava próximo tirou a dúvida: era o dia da morte do general Médici, ex-presidente da república durante a ditadura. Durante seu governo o Brasil passou por um dos períodos mais truculentos, com censura-prévia à imprensa, torturas e exílios. Custei a sacar a ironia de um cantor de rock comandando uma multidão de punks de coturno e "comemorando" a morte de um general. O melhor na hora, foi repetir as palavras de Jagger, it's only rock n' roll but I like it e curtir o resto do show.

Lá pelo meio do show Renato avisa que a banda vai tocar uma música pela primeira vez no Circo, e que estaria sendo testada em formato novo. Começam a ser ouvidos uns acordes lentos do violão e os primeiros versos:

"Não tinha medo o tal João de Santo Cristo, era o que todos diziam quando ele se perdeu..."

O começo lento, acompanhado na bateria de Bonfá por instrumentos típicos do Nordeste, como o triângulo, fizeram com que alguns punks vaiassem. Mas logo as sutis marcações e viradas da longa canção, alternando forró, pop, punk rock, começaram a conquistar a todos. E havia a letra, sensacional. A epopéia de um tal João de Santo Cristo, apaixonado por Maria Lúcia e levado ao crime por um tal de Jeremias - com um clímax que, como nos bons faroestes, levava a um duelo entre mocinho e vilão, desta vez no Planalto Central de Brasília.

A letra era longa e emocionante. Parecia que todos se viram um pouco naquele personagem que se "perdia" em busca de uma identidade e um trabalho dignos em terras brasileiras. Ao final da canção, aplaudimos muito e senti que era lançado ali um novo clássico da Legião.

Novo? Não é bem assim. "Faroeste caboclo" é do tempo em que Renato, antes de formar a Legião Urbana, se apresentava em Brasília sob a alcunha do "Trovador solitário", munido apenas de voz e violão - como nos primeiros tempos de seu ídolo Bob Dylan. Mas que só naquele outono de 1987 estava sendo gravada.

Uma semana depois,"Faroeste" invadiu o dial radiofônico e foi um sucesso instantâneo. Curioso é que na época, apenas dois anos depois do fim da ditadura, algumas emissoras ainda praticavam a autocensura em suas programações, e no caso da música de Renato algumas inseriram um apito nas muitas passagens com palavrões, tornando o efeito risível. Logo, o ridículo da censura foi mandado às favas e em pouco tempo jovens do Brasil inteiro cantavam a odisseia de João de Santo Cristo. Com os palavrões.

Eu estava ainda fazendo o segundo grau (sorry, nível médio, mas naquele tempo o nome era outro) e era muito interessante ver nos intervalos das aulas do colégio grupinhos em toda parte (alguns levavam violões) tentando cantar de ponta a ponta a letra quilométrica. Dava pra notar: "Faroeste caboclo" havia virado uma febre.

Quanto a mim, depois de tanto tempo, penso que a Legião, a música e a piada de Renato no palco me ajudaram a cravar Comunicação no vestibular que eu faria dali a alguns meses. Pois uma coisa que aprendi naquele dia era que eu não queria mais ficar desinformado sobre o mundo. Eu queria saber dos acontecimentos e, se possível, estar no meio deles. Algum tempo depois, aprovado no vestibular, eu tinha certeza que seguiria em frente no jornalismo.

Uma escolha que Renato Russo, numa noite perdida dos anos 80, no Circo Voador, ajudou a tornar realidade.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Sobre ateus, fumantes e pautas mal apuradas

"A imprensa existe para o bem do público, não somente para entreter e ganhar dinheiro. Nossa função principal é dar aos espectadores a melhor versão possível da realidade, que é um conceito simples e muito difícil de se alcançar" (Carl Bernstein)


Segunda-feira, 03 de maio, foi comemorado o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. A julgar pelos constantes ataques que volta e meia os meios de comunicação vem recebendo aqui e na América Latina, é uma data que deve ser lembrada sempre, e não somente apenas um dia do ano. Nosso jornalismo não é perfeito, e volta e meia erra na ânsia desenfreada pelo furo de reportagem; mas é preferível uma imprensa imperfeita a uma imprensa controlada, como é comum nos regimes totalitários.

A respeito disso, este blog não poderia deixar de comentar uma pisada na bola de muitos jornais de grande imprensa brasileira, que repercutiram erroneamente uma história falsa e mal apurada: a notícia de que o candidato à presidência da República, José Serra, teria comparado fumantes a ateus.

A notícia, divulgada semana passada, mereceu um reparo na segunda-feira, pela agência que a divulgara: a RBS, do Sul. Na tarde de segunda-feira, todos os sites, blogs e jornais sérios corrigiram as inverdades sobre o discurso de Serra no encontro evangélico em Santa Catarina do dia 1º de maio (nem todos, que fique claro: como estamos em ano eleitoral, é claro, alguns "se esqueceram" de corrigir). Vejamos a mea culpa da RBS:

“Diferentemente do que informou este site na reportagem “José Serra participa de encontro religioso em Santa Catarina” (01/05/2010 – 20h39min), o ex-governador de São Paulo e pré-candidato à Presidência da República, José Serra (PSDB), não se referiu a fumantes como pessoas “sem Deus”. Na verdade, o discurso do político não relacionou diretamente o fumo com a religião. Em um primeiro momento, Serra citou passagens bíblicas à multidão reunida em Camboriú e disse que a frase “Que tenham vida, e a tenham em abundância” está ligada à qualidade de vida e não apenas a ações para prolongar a vida das pessoas. Em seguida, citou programas desenvolvidos nas gestões dele frente ao governo de São Paulo e ao Ministério da Saúde, entre eles o de combate ao fumo".

Ajudou alguma coisa? Pouco, na verdade: o estrago já estava feito e repercutiu em toda a imprensa. Até a Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (ATEA) enviou nota de repúdio à suposta declaração do candidato à presidência. Bem, quem lê este blog sabe que não existe aqui nenhuma manifestação contra ou a favor de Serra, Dilma, Marina Silva ou qualquer outro candidato á presidência. Mas como o assunto é a imprensa, não me furto a deixar minha opínião.

O fato de a nota de retificação ter saído no mesmo dia em que se comemora a liberdade de imprensa é sintomático, pois neste dia houve em vários cantos do país debates sobre a data. No Rio, o jornalista Carl Bernstein - famoso mundialmente por ter sido, junto com Bob Woodward, um dos repórteres a cobrir e desvendar o escândalo de Watergate, que culminaria com a renúncia do presidente dos Estados Unidos Richard Nixon, em 1974 -, ao comentar o papel da imprensa atual, não hesitou em fazer sérias críticas sobre o que ele chamou de "preguiçosa apuração dos fatos". Bernstein disse que, além de buscar sempre manter a liberdade de imprensa, os jornalistas devem cuidar ao mesmo tempo de manter a credibilidade da imprensa em todos as plataformas em que as notícias são divulgadas. Em entrevista ao Globo, o jornalista americano alertou que tal confiança vem sendo minada pela frivolidade e uma perigosa apuração dos fatos.




Vale a pena citar outra declaração de Bernstein no seminário do Rio de Janeiro:
- Nos últimos anos, tem dominado a cultura jornalística global algo cada vez menos a ver com a verdade, a realidade ou o contexto. O jornal tem estado fora de contato com a verdade, com frequência desconectado do contexto real, desfigurado pelo culto á celebridade, fofoca, sensacionalismo e controvérsia manufaturada, sobretudo na TV, mas também no jornalismo impresso, estimulada por jornalistas e pelo discurso político.

Culto à celebridade, fofocas...será que o cara não pegou pesado? Bem, na mesma segunda-feira, dia 3 de maio, a manchete principal de um grande portal brasileiro era "Anamara do BBB diz que ficou excitada com as fotos para a Playboy". Subtítulo: "Ex-policial diz que 'pegava' o Dourado". Bem, vou me abster de comentar...

Voltando ao que interessa e ao motivo deste artigo: tivesse havido um pouco mais de seriedade na apuração e a rede RBS não teria publicado a notícia. Tivesse ocorrido a alguém um pouco mais de preocupação com a mensagem recebida e nossa grande imprensa (além da maioria dos sites) não teria retransmitido a "barriga" sem checar a veracidade da informação.

(Entre parêntesis: Bernstein também comentou que entre os jornalistas presos, quase metade deles são blogueiros (!!), "pois eles podem escrever o que quiserem, já que não são censurados". Que orgulho!, É sinal que, à despeito das limitações ao acesso à rede e mesmo com proibições da internet em alguns países, os blogs estão ganhando importãncia e incomodando!).

Ainda sobre os "fumantes ateus". Nesse caso, a pressa em dar uma notícia "impactante" de um candidato à presidência levou a imprensa a errar. Nossos jornalistas não foram atrás da melhor versão possível da verdade, segundo a ótima definição de Bernstein, mas sim à procura pela forma mais rápida de dar um furo irresponsável. Só nos resta torcer que erros assim não se tornem comuns no que vem por aí, pois a disputa presidencial está esquentando. E para que as críticas à imprensa, feitas semana sim semana também por nossos políticos, em sua maioria infundadas, não se tornem reais.

E os fumantes, heim? Será que se sentiram afetados com a polêmica toda? Creio que não. Outro dia mesmo, um fumante gaiato, ao comentar a infeliz declaração, teria levantado as mãos pro céu e dito: "Perdoai-vos, pai: eles não sabem o que publicam!"

sexta-feira, 23 de abril de 2010

"Quando não há escândalo, a gente fabrica": considerações sobre A vida alheia

Dia desses o ator, autor e diretor Miguel Falabella jantava num restaurante com a amiga e atriz Cláudia Jimenez quando subitamente foram fotografados por um paparazzi. O homem tirou a foto e, tão rápido como apareceu, desapareceu do restaurante. Longe de incomodar Falabella, a cena o levou a imaginar e criar um novo programa de televisão.

Pois bem, passou-se um tempo e, entre as apostas da TV Globo para sua grade de programação neste primeiro semestre, o seriado "A vida alheia" tem se mostrado uma das melhores novidades. O programa tem conseguido injetar em seus episódios humor, ironia, acidez e malícia ao revelar os bastidores de uma revista especializada em fofocas no Rio de Janeiro - a meca das celebridades brasileiras.



Sim, o seriado parte de uma ideia de Miguel Falabella. Mas não espere nada parecido com o humor popular de "Sai de baixo" ou "Toma lá, Da cá". O tom aqui é ácido e, apesar de constituir um programa de humor, não deixa de apresentar certa melancolia ao narrar as peripécias de seus personagens. Temos ali a temida editora Alberta Peçanha (conhecida por seus inimigos por "Alberta Peçonha") da revista semanal "A vida alheia" - vivida por Cláudia Jimenez. Marília Pêra (Catarina Faissol)é a dona da revista e cúmplice de Alberta na busca do furo a qualquer custo. Paulo Vilhena vive um fotógrafo que não hesita em ir atrás da imagem inusitada de celebridades em qualquer circusnstância; Danielle Winits é uma repórter que não mede esforços para conquistar o posto que verdadeiramente deseja: a cadeira de Alberta Peçanha. Ou seja, como diria aquele gaiato fotógrafo que Fellini inventou para o filme "A doce vida" e que consagraria o nome "paparazzi", tutti buona gente! Ah, sim! pra não dizer que só há cobras criadas em "A vida alheia", há um personagem do alto comando da revista (mas que na verdade não manda em nada...) que vive angustiado pela hipótese de a revista ser processada por atropelar a ética.

Ética jornalística? Bem, esse termo parece não existir no dia a dia de Alberta Peçanha. Em todo capítulo há uma busca incessante para conseguir a melhor capa para a revista, que não dispensa um escândalo. Logo no primeiro capítulo, o fotógrafo Lírio tira diversas fotos de uma "grande dama" do high society completamente bêbada numa boate acompanhada de um garotão - a foto só não sai na revista porque a socialite é amiga da publisher vivida por Marília Pêra(sob protestos de Alberta, que queria publicá-la de qualquer maneira). Logo em seguida, uma repórter da revista irrompe na sala de Alberta. Segue o diálogo:

- Alberta, procurei todas as celebridades que pude, fui em busca de todas as pesoas que conhecem a atriz tal, mas todos se recusam a falar mal dela, como você pediu. O que faço?
- Querida, comece a escrever a matéria. Depois, escreva o seguinte: uma conhecida da atriz tal, que não quis se identificar, falou à "Vida alheia": "Ela está por baixo e nunca vai conseguir reaver o prestígio que um dia teve".
- Mas Alberta, desde quando a gente pode publicar isso?!
- Desde que o mundo é mundo, minha filha. Agora saia da minha sala e vá escrever a matéria.


Nos dois primeiros capítulos tivemos casos em que o chamado jornalismo responsável simplesmente não existe. Após descobrirem por acaso que o filho de uma modelo-celebridade não é do marido, Alberta e Catarina marcam um encontro com o casal apenas para saberem que tipo de vantagens teriam ao não publicar o escândalo na capa da revista. A frase do marido é lapídar: "Deixemos toda a cerimõnia de lado e conversemos como os verdadeiros canalhas que somos". Tudo se resolve com um novo anunciante para a revista - a empresa do marido, é claro - e o casal feliz na capa da revista, "mostrando sua nova casa e a felicidade a dois"; título obviamente inspirado nas mais famosas revistas de celebridades brasileiras.

Em outro episódio, um ator de telenovelas famoso morre de repente. A equipe da revista fará de tudo (inclusive uma repórter se disfarçará de enfermeira) para conseguir a foto do morto antes dos outros meios de comunicação, a fim de, é claro, ostentar a capa da publicação.

Poderíamos dizer que "A vida alheia" comete exageros aqui e ali. Sim, estaremos corretos. Na verdade o jornalismo de escãndalos é algo em decadência hoje em dia, e mais restrito a jornais populares e sensacionalistas, embora ainda faça bastante barulho em tablóides americanos e ingleses - estes últimos adoram publicar os últimos barracos de Amy Winehouse e seus namorados, bem como as indiscrições de membros da família real. No Brasil, as revistas no estilo "Caras" procuram mesmo é manter um bom relacionamento com a celebridades que, sim, adoram estar nas páginas semanais.

Podemos também dizer que a série denigre a imagem do jornalista, ao mostrá-lo como um indivíduo disposto a tudo por um furo de reportagem. Quanto a esta última declaração, não é bem assim. Como em toda a profissão, o jornalismo apresenta ótimos profissionais ao lado de verdadeiras "cobras criadas" - não por acaso, a expressão dá título à ótima bibliografia escrita por Luiz Maklouf Carvalho sobre David Nasser, jornalista dono de um texto brilhante, mas capaz de tudo para destruir a imagem de pessoas famosas (quem já conferiu o filme "Chico Xavier" viu a sequência em que Nasser, então repórter da revista "O Cruzeiro", junto ao fotógrafo Jean Manzon, tenta "desmascarar" o médium). Há órgãos que apelam demasiadamente ao sensacionalismo; enaquanto há também a imprensa responsável, que busca relatar com precisão e honestidade os fatos. Cabe ao leitor manter sempre o senso crítico. Parafraseando Tom Jobim, nosso jornalismo não é para principiantes.

Quanto ao sucesso de revistas de celebridades como "Caras", "Quem" ou "A vida alheia", por mais que haja reclamações de uma suposta intelligentzia contra elas, não se pode negar que elas só estão à venda porque despertam interesse nas pessoas comuns. O sucesso na TV do Big Brother (a maior audiência em qualquer programa no estilo reality show nos últimos anos). E nossas celebridades (nem todas, é verdade)adotam de fato um perfil peculiar: vivem reclamando do assédio de paparazzis, mas não suportam estar longe dos holofotes, situação que levou o cronista Tutty Vazques a sugerir uma possível "evasão de privacidade" em nosso país.

O que podemos constattar é muito simples. Enquanto houver o interesse fora do comum de nossa população pelo cotidiano das celebridades, revistas como a do seriado global continuarão a vender bastante. Seus editores, como a nem tão irreal assim Alberto Peçanha, sabem que a "vida alheia" é hoje uma mercadoria de alto valor nas bancas de revista.

sábado, 10 de abril de 2010

Um prêmio para a Rádio Sucupira

A Associação Paulista de Críticos de Arte acaba de publicar a lista de agraciados do ano de 2009, e entre os vencedores na categoria Rádio está a hilariante Rádio Sucupira, da CBN, que concorreu como melhor programa de variedades.



Prêmio justíssimo. Pra quem não sabe ou tem menos de 30 anos, Sucupira era a cidade criada por Dias Gomes para a novela O Bem Amado, dos anos 1970 na TV Globo, por onde desfilavam tipos inesquecíveis como o prefeito Odorico Paraguaçu, Zeca Diabo, Dirceu Borboleta e as Irmãs Cazajeiras. O sucesso foi tanto que a novela que renderia um seriado nos anos 80, também na Globo uma peça de teatro de sucesso e agora em 2010 é aguardada sua versão cinematográfica, dirigida por Guel Arraes.

O "coronel" Odorico e o dia a dia de Sucupira é um retrato perfeito da política brasileira, seus conluios, conchavos e tipos folclóricos. O que o programa faz é justamente contrapor as falas - retiradas da novela e do seriado de TV -, do político vivido por Paulo Gracindo, às "sonoras" (o áudio do rádio) dos políticos de hoje - Lula, Dilma, Serra, senadores, deputados e o que mais for notícia. O mais interessante - e é aí que está a graça do programa - é que, ao escutarmos a Rádio Sucupira podemos notar que pouco ou nada mudou na política brasileira dos anos 1970 até hoje. Os problemas satirizados na ficção daquela época continuam praticamente os mesmos na realidade dos dias de hoje.

Ou seja, a Rádio Sucupira é um engenhoso momento radiofônico que mostra ao ouvinte como a arte pode ser eficaz na denúncia da coisa pública. Em certos momentos da montagem muito bem feita do programa, ficamos sem saber em que época estamos - se no programa ou na política brasileira real. Diria mesmo que, se não fosse a inconfundível voz e interpretação de Paulo Gracindo como Odorico, teríamos sérias dúvidas em definir a época ilustrada na rádio. Ponto para a CBN/Sucupira.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Sai de cena um mestre da crônica esportiva: Armando Nogueira

Atenção: este post é pra quem aprecia um bom texto jornalístico, uma crônica de um mestre que acaba de nos deixar.

Um tanto atrasado, eu não poderia deixar de reverenciar aquele que fez do jornalismo esportivo algo à beira do sublime, um mestre botafoguense tão bom nas letras como Garrincha o fora com a bola nos pés: Armando Nogueira. Nogueira era um estilista da palavra, um craque da crônica apaixonado por futebol, que com rara habilidade e categoria deixou para a posteridade textos belíssimos.

Seleciono apenas um deles, o majestoso "Na grande área", mesmo nome de sua coluna de jornal e depois de seu primeiro livro. Com vocês, Armando Nogueira:

Tudo acontece na grande área: a guerra de Pelé, a guerrilha de Garrincha, o chute fatal, a rebatida heróica, o drible temerário de um beque, a tragédia do goleiro, em cujos pés solitários a grama não floresce; na grande área, ressoa, implacável, a hora da verdade, erguendo e derrubando mitos no gesto simples de chutar uma bola; na grande área, nasce o gol, nasce o infarto que mata de emoção o torcedor; na grande área, onde os homens se acovardam e se engrandecem, a rasteira é pecado que no ato se paga pelo castigo do pênalti, entidade tão decisiva no destino de um jogo que, segundo um velho pensador do futebol, só devia ser cobrado pelo presidente do clube; nos canteiros da grande área, os pés imortais de Domingos da Guia pisando a grama de leve para não magoar a própria semente de sua arte - Nilton Santos.
Quanta emoção na pureza geométrica da grande área, onde não falta sequer o singelo mistério da meia-lua, quarto minguante dos fracos, lua cheia de Leônidas.
Vivi tristezas, vivo alegrias, tenho chorado, já cantei muito, às vezes rezo, vendo a bola correr, na grande área; nem mesmo os sentimentos mais subalternos da alma humana - nem deles a grande área do futebol me tem poupado o coração; já tremi de medo, já odiei, já invejei. A paixão do futebol tem me pesado a vida de tantas emoções que já não tenho mais o direito de lastimar se um dia a morte me queira surpreender no instante de um gol.


(Armando Nogueira)

sábado, 27 de março de 2010

100 anos de Kurosawa: Rashomon e a verdade inatingível

Eu deveria ter uns 19 ou 20 anos quando assisti a Rashomon no cinema. Foi no antigo Cineclube Estação Botafogo, muito antes de virar o complexo de cinemas do Grupo Estação, no Rio e em outros estados. Saí de casa com o tempo bom e durante a viagem de ônibus começou a chover forte. Quando saltei em Botafogo, caía um temporal. Corri para uma marquise e a duras penas consegui chegar até o cinema, todo molhado. Paguei o ingresso como se nada houvesse acontecido, enquanto a bilheteira observava meu estado. Entro no cinema. As luzes se apagam. Constato que o começo da película também mostra uma chuva impiedosa - só que no Japão antigo. Em poucos minutos eu já estava totalmente hipnotizado pela força daquele filme que, em 1951, mostrou o brilho do cinema japonês ao resto do mundo e revelou um cineasta que se tornaria um dos maiores do século XX - Akira Kurosawa.





Os 100 anos que Kurosawa estaria fazendo em 2010 (ele morreu em 1998) estão sendo amplamente comemorados em todo o mundo do cinema. Vários grandes centros já programaram mostras com retrospectivas de filmes do cineasta, o que só demonstra sua importância. Eu poderia falar aqui de várias de suas obras, sua influência em cinematografias aparentemente tão díspares do Japão (como o clássico faroeste "Sete homens e um destino", todos sabemos, foi adaptado de "Os sete samurais"; ou "Por um punhado de dólares", que Sérgio Leone copiou nitidamente do sucesso "Yojimbo"), ou mesmo suas adaptações de clássicos shakespeareanos, como "Trono manchado de sangue" (Macbeth) e "Ran" (inspirado em Rei Lear). Mas vou me deter mesmo em Rashomon e o intrigante debate que o filme oferece: afinal, qual o limite de uma verdade?

Rashomon apresenta logo de cara um assassinato. Através de flasbacks, a trama então mostrará como este crime é relatado por meio de quatro personagens: um lenhador, um sacerdote, um bandido e a esposa de um samurai assassinado. Nenhuma versão entra em sintonia com a outra; todas são contraditórias. Quem ali estaria falando a verdade? Haveria, no entanto, uma verdade inquebrantável neste e em outros casos?

O mesmo pode ser aplicado ao jornalismo moderno e uma de suas principais regras: a objetividade. No jornalismo, a objetividade seria o dever do jornalista de se ater exclusivamente aos fatos, ou melhor, relatar o fato tal qual acontecera. No entanto, se pedirmos a dois jornalistas que apurem a notícia de um crime com testemunhas - tal qual em Rashomon - cada um voltará à redação tal qual os personagens do filme: os dois trarão suas próprias versões da mesma história.

Ou seja, não há verdade absoluta, tanto na arte do cinema como na aparente objetividade dos jornais. O que ocorre é que os jornais vivem de algo que os faz respeitados pelo leitor - sua credibilidade. A capacidade que eles têm de fazer com que seus relatos sejam verossímeis. Para isso já foram inventadas diversas teorias que elevariam a objetividade à uma suposta verdade infalível, como a teoria do espelho - furadíssima hipótese na qual o jornalismo refletiria a todos nós, tal como um espelho, o fato como ele realmente aconteceu.

Hoje, até o ótimo e indispensável "Dicionário de Comunicação", de Rabaça & Barbosa, demostra que a objetividade, na realidade, não existe. E conclui de forma digna: seria muito mais correto os jornais falarem em honestidade de informação do que em objetividade.

Então, sejamos mais críticos com as notícias que os jornais nos levam diariamente. Não digo para que deixemos de acreditar nos jornais; mas sim levarmos em conta que o jornalismo mais sério não está preocupado em impor ao leitor uma suposta verdade que sabemos inexistente. Mas sim apostar em diversos pontos de vista - dando ao fato o direito ao contraditório, ouvindo os dois lados de cada história, outra regra básica do bom jornalismo - para que o leitor tire sua própria conclusão.

Ou seja, como Kurosawa prova em Rashomon, cada um tem a sua própria verdade.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Para o infinito e além: no cinema com Tuco, assistindo a Toy Story

Dia desses eu estava em casa ouvindo na rádio CBN a coluna sobre cinema do crítico Marcos Petrucelli, autor do site E-Pipoca, quando ele perguntou à apresentadora do CBN Total:

- Silvia, você prefere que eu comente primeiro o quê: vampiros ou brinquedos animados?
- Hummmmm. Prefiro vampiros.
- É mesmo? Achei que iria escolher os brinquedos, Silvia. São muito mais divertidos que os vampiros...

Explicando: os vampiros a que o crítico se referia eram aqueles da série Crepúsculo, atual must das adolescentes mundo afora. Já os "brinquedos animados" diziam respeito ao revolucionário desenho animado da Pixar, Toy Story, cujo terceiro longa estreia em junho no Brasil e no resto do mundo. Bem, devo avisar que este blogueiro concorda com Petrucelli: os bonecos de Toy Story -como o astronauta Buzz Lightyear e o cowboy Woody - são muito mais divertidos que os xaroposos vampiros (que as mocinhas não me escutem!) da série criada pela escritora Stephenie Meyer. Ainda mais se você tem um filho de cinco anos e pode experimentar a sensação de levá-lo junto ao cinema, agora para conferir o desenho em 3D.



Quando, em 1995, vi o primeiro filme da série Toy Story, eu disse pra mim mesmo na saída do cinema: taí um filme que quando tiver um filho eu gostaria de levá-lo. Passaram-se 15 anos e cumpri meu desejo, pois mês passado fui com o Arthur (ou Tuco, para os mais chegados) ao complexo de cinemas do Nova América, no shopping de mesmo nome no Rio, para ver o relançamento do primeiro filme da série. Ali, pai e filho juntos, pela primeira vez entramos em contato com a tecnologia 3D, experimentando os tais óculos dentro da sala escura.

Foi uma bela experiência, embora o Tuco, mesmo adorando o filme (saiu do cinema cantando o tema musical "Amigo estou aqui"), só usou os óculos até metade da sessão, preferindo ver o resto do filme sem os apetrechos. "Dá pra ver sem eles, papai", ele disse, e quem sou eu pra discordar.

Duas semanas depois estávamos em outro cinema, na Tijuca, agora com minha irmã, Nanda, e sua filha Julinha, de 3 anos, asssitindo a Toy Story 2. Julinha usou os óculos durante quase todo o filme e, para desespero de minha irmã - que estava adorando a sessão -, pediu pra ir ao banheiro justamente quando faltavam apenas 10 minutos para o filme acabar. Enquanto isso, ao meu lado, Tuco, que dessa vez só usara os óculos nos 5 minutos iniciais do filme, levantava da cadeira e dançava asssistindo à deliciosa cena final, na qual um pinguim antes afônico e, agora, "consertado" e munido de um vozeirão, canta com todos os brinquedos a música-tema.

Pra quem leu até aqui, já sabe que ir com crianças ao cinema é uma experiência e tanto, podendo ser inusitada ou divertidíssima.

E já prometi ao Tuco que em junho iremos de novo ao cinema conferir Toy Story 3, que desponta como um dos longas mais aguardados do ano por crianças, pais e amantes do cinema. Se o primeiro revolucionou a arte da animação ao ser todo feito em computação gráfica e o segundo emocionou a todos com um roteiro nada menos que brilhante; o terceiro, que já está passando em pré-estreias nos EUA, levará o público de volta aos brinquedos muitos anos depois do segundo longa, quando o dono deles, o menino Andy, cresce e vai para a faculdade. O mote, ao que tudo indica, será este: quem será o novo dono dos brinquedos, já que o garoto que outrora passava horas a brincar no quarto com seus bonecos agora tem outros interesses?

Bonecos com crise de consciência? Pode ser, mas não nos esqueçamos que a série Toy Story, embora muito inteligente, é uma comédia infantil. O Cartoon Network (pois é, quem é pai ou mãe e leitor deste blog sabe que as crianças de hoje não vivem sem esse canal) já está passando trechos do filme nos comerciais. Parece que a boneca Barbie, que já fez uma ponta em Toy Story 2, estará de volta, acompanhada desta vez pelo namorado Ken -pelo menos no trailer, em uma cena hilária, ele é sistematicamente avacalhado pelos outros brinquedos por ser considerado "brinquedo de menina".

(Aliás, essa história de sacanear o boneco Ken não é primazia apenas da série Toy Story. Aqui no Rio o cartunista Cláudio Paiva é um que volta e meia adora implicar com o boneco, como num célebre cartum em que Barbie abandona o lar e, ao encontrar uma amiga, diz que saiu de casa porque descobriu que Ken "era boneca". Recentemente, o cartunista voltou à carga, numa hilária fotomontagem com os bonecos - ou bonecas? - originais, em que Ken "invadia" a página do cartunista para reclamar de alguns leitores que estariam duvidando de sua masculinidade, não sem antes apresentar um "amigo" americano com quem estaria morando junto em Tiradentes!).

A estratégia de lançamento dos dois primeiros filmes da série Toy Story teve como novidade a exibição deles no cinema em formato 3D. Sim, novidade, pois nenhum dos dois primeiros longas foi pensado para o formato. Ao que tudo indica, os produtores resolveram aproveitar a onda e "adaptaram" os dois primeiros filmes para as três dimensões, visando atrair novas plateias, como se os filmes tivessem sido feitos ontem (o primeiro é de 1995 e o segundo de 1998).

Nada contra - curti bastante ir ao cinema com meu filho para ver os dois primeiros filmes da série em 3D, ainda que o terceiro - este realmente pensado e feito todo ele segundo a tecnologia - eu talvez prefira conferir nas salas comuns, pois meu filho, como eu disse, anda dispensando os óculos...

O único problema é a possibilidade de os homens de cinema resolverem investir em todo o tipo de filme no formato 3D, apenas para aproveitar a onda. Filmes que não foram pensados para o formato estão sendo convertidos agora apenas para lucrar com a "novidade", que nem é tão nova assim e andava obscurecida até ser resgatada por James Cameron em Avatar, um filme pensado e filmado para sr exibido no formato. Ironicamente, Cameron recentemente reclamou desta febre 3D nos cinemas. Realmente há uma boa diferença em conferir Avatar em 3D nos cinemas, da forma que ele foi idealizado, e pagar mais (sabemos que estas sessões são mais caras) para ver um drama de época ou uma comédia romântica que foram transformados em "películas 3D" por um produtor ganancioso.

A febre do 3D teve um único fator de comemoração louvável: levou muita gente que andava afastada dos cinemas de volta às salas escuras. Mas, se a febre se converter em abuso e mercantilismo desenfreado, farei como meu filho: tirarei os óculos e voltarei para o bom e velho cinema. Aquele que só depende de um bom roteiro, um bom diretor e atores em sintonia para emocionar as plateias.