sábado, 31 de dezembro de 2016

Uma festa de 15 anos, um convite nas redes sociais...e 1,2 milhão confirmam presença na festa


Lembro que uma vez, quando trabalhava na extinta Rio Sul Linhas Aéreas, uma amiga me convidou para o casamento dela. Seu nome era Aline e eu a havia ajudado nos primeiros dias de trabalho, como instrutor na elaboração de reservas (era comum aqueles com mais tempo de casa ajudarem nas primeiras ligações dos iniciantes). Aline era muito simpática e logo ficamos amigos. Menos de uma ano depois, encontrei-a num dos corredores da empresa. Aline iria casar e me convidava para a festa. Aceitei de bom grado. No dia seguinte, Aline, na ansiedade de comunicar a todos da empresa que iria casar, deu um passo em falso: prendeu um convite do casamente, como data e local, na sala de espera, um local o qual todos passavam. E, claro, todos ali leram o aviso. Resultado: no dia da cerimônia, não só os amigos de Aline estavam presentes, mas uma grande leva de funcionários da empresa que mal a conheciam (alguns nitidamente nem falavam com ela) aproveitaram a data para "prestigiar" o casamento de Aline.

Isto ocorreu nos idos de 1998 ou 1999, não estou bem certo. A internet ainda era algo para poucos brasileiros, e quem tinha acesso o fazia pelos PCs, na época bem caros. Lembrei da história depois de saber pela televisão da festa de aniversário da jovem mexicana Rubi, neste fim de 2016. Seu pai inadvertidamente colocou a informação da festa de 15 anos da filha no Facebook, dizendo que "todos são bem-vindos". A intenção era informar os parentes e vizinhos mais chegados. Só que, tal como Aline, o pai de Rubi deu um grande, um enorme passo em falso: mais de 1 milhão de pessoas leram o recado e se sentiram "convidados" à festa no México, ou seja, confirmaram presença pela rede social

Para usar uma palavra muito empregada atualmente, a mensagem viralizou, potencializando aquele convite feito pelo pai de Rubi em uma extensão jamais imaginada pela família. Pra variar, não faltaram hilariantes memes a ironizar, debochar, implicar ou simplesmente compartilhar a festa da debutante que, tal como no Brasil, costuma ser uma das festas mais tradicionais entre meninas que completam 15 anos. Um advogado local chegou a informar que avisaria a polícia para garantir a segurança do local caso a multidão realmente comparecesse.

Querem saber quantos realmente compareceram? Em torno de 10 mil, mesmo após os pais alertarem pela televisão que não conseguiriam receber todos. Pessoas de outras cidades estiveram no local, ambulantes com as indefectíveis barracas montaram praça perto da festa etc. Aos pais só restou manter a festa, apenas trocando o local para outro, descampado, para abrigar a enorme lista de "convidados" não oficiais. Tudo isso, em tempos de redes sociais, poderia assim mesmo ter se mantido no noticiário mexicano, mas ultrapassou as fronteiras após um episódio trágico: durante a festa, uma corrida de cavalos co  apostas deixou um morto e outro ferido.

Pensei bastante nesta história e lembrei de como hoje a internet tem realmente mudado nossas vidas. É preciso cada vez mais cuidado com o que escrevemos na web. Escolhi este curiosíssimo caso pra encerrar este ano no blog e tentado fortemente a começar minha primeira aula de Mídias Digitais em 2017 com a história do aniversário de Rubi. tenho certeza de que a turma gostará, e desta vez ninguém precisará "confirmar presença".

Um feliz 2017 para todos nós.

     







 

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Lides imperdíveis: um artista do século XIX é o mais vendido em 2016

Preste atenção neste pequeno parágrafo, tirado diretamente do site da revista Bilboard. Traz um texto tão bem escrito e tão inquietante em apenas duas linhas que motivou a volta da seção "lides imperdíveis" deste blog:

The biggest-selling CD act of 2016 doesn't sing. He doesn't play guitar and doesn't tour. In fact, no one alive has ever seen him.

Traduzindo:

O maior vendedor de CDs de 2016 não canta. Ele não toca guitarra e não faz turnês. Na verdade, ninguém vivo jamais o viu. 

O autor em questão é Mozart, e trata-se de um box-set (caixa de CDs) que é precisamente uma peça de colecionador. Chama-se "Mozart 225" e foi lançada para comemorar o aniversário de 225 da morte do grande compositor clássico, um dos maiores da humanidade. O autor da matéria - o jornalista da Bilboard Lars Brandle - explica que entre o planejamento, a curadoria e o lançamento levaram-se 18 meses até  caixa ficar pronta. A caixa teve 6250 compradores. mas, levando-se em conta que cada uma traz 200 CDs (sim, 200 CDs!), e multiplicando-se por cada comprador dá 1,25 milhão de CDs vendidos. Está tudo do músico rigorosamente ali dentro. Há desde as primeiras sonatas do jovem Mozart até seus últimos réquiens antes da morte.  



São tempos diferentes para a música e para os formatos. Mozart morreu antes de conhecer os primeiros fonógrafos, depois as vitrolas, os primeiros discos de vinil e a consolidação da indústria fonográfica durante o século XX, algo que só seria suplantado pela chegada das mídias digitais, que trouxe o CD e mais tarde as faixas em MP3. Mesmo com a caixa luxuosa em primeiro lugar, o formato CD está em queda e sofre agora a concorrência não só do que seria o mais esperado - downloads ou streamings do ITunes ou Spotify - mas do aumento das vendas do disco de vinil. um formato que até pouco tempo era dado como morto aqui no Brasil mas que nunca deixou de vender lá fora. Semana passada, a seguinte nota saiu na Veja:  "Vinil - No Reino Unido, o valor das vendas dos discos superou o dos downloads de música, pela primeira vez, desde que os dois formatos disputam mercado."

Tudo isso é muito interessante e reflete as transformações na indústria, onde o novo agora tem que conviver com formatos antigos ou reprocessados (dia sim outro também vejo anúncios de aparelhos tocadores de vinis que "também gravam em mp3"). Mas, terminando a digressão e voltando ao que interessa a este post, por que o lide escolhido por ser considerável excelente?

Por que faz, com um mínimo de texto, aquilo que todo jornalista, ao começar a escrever uma matéria, deveria tentar: lançar uma frase marcante, atiçar sobremaneira a curiosidade do leitor de tal forma que para uma mente inquieta seja impossível não continuar a leitura.

Só por isso. Ponto para a Bilboard e para Brandle.