quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Para fechar bem o ano: Beatles!

Em todo o mundo, é uma tradição nos meios de comunicação recapitular os momentos mais importantes daqueles 365 dias que se foram. Daí a avalanche de retrospectivas, seletivas, momentos bons e ruins, grandes perdas, grandes talentos que surgiram, os campeões do esporte, os melhores nas artes etc. Hoje em dia, com a velocidade dos acontecimentos e a nova gama de informações, multiplicada pelo advento da internet, entramos num paradoxo: há muito mais informação disponível e muito mais espaço para levar ao público sua arte; porém, é cada dia mais difícil o surgimento de um talento que arrebate as multidões e promova uma revolução musical e comportamental entre os jovens. A morte de Michael Jackson, que com certeza será lembrada em todos os programas retrospectivos mundo afora, marcou também o fim de uma era: a do artista como um revolucionário que muda a cultura de sua época e vende milhões de discos. Hoje, vivemos a cultura do download musical e por enquanto não há certezas sobre o futuro do mercado de discos.

Este cenário musical de 2009 marcou também o relançamento - pela primeira vez remasterizados dignamente - de todos os CDs (originalmente lançados como LPs) dos Beatles, a banda mais revolucionária do rock. Comemorou-se também os 40 anos do lançamento, em 1969, da obra-prima "Abbey Road", o canto de cisne dos quatro de Liverpool. Num tempo em que qualquer um pode gravar um disco dentro de seu quarto ou garagem e depois lançar na internet, é sempre bom lembrar de artistas que com seu talento proporcionaram arte duradoura e, por que não, eterna.

As comemorações pelos 40 anos de Abbey Road foram muitas. De minha parte, vou transcrever um trecho da entrevista concedida aos repórteres americanos à época da primeira viagem dos Beatles aos Estados Unidos, em 1964, quando o grupo definitivamente conquistaria o mundo. São momentos que mostram todo o humor, ironia e non-sense de artistas em processo de amadurecimento.



Deslumbrados com o sucesso, sim, mas conscientes do poder da música no mundo do entretenimento, os quatro integrantes da banda respondem e cutucam jornalistas que insistem em fazer perguntas idiotas ("vão cortar o cabelo?"). Era já um prenúncio da cultura de celebridades que estava por vir - mais preocupada com a imagem e fofocas do que com arte. Segue o trecho, retirado do livro de Roberto Muggiati "A Revolução dos Beatles".

"A conquista do planeta começou mal, numa apresentação de aquecimento no Cinema Cyrano, de Versalhes. No dia seguinte, tinha início a temporada parisiense no Olympia. Os rapazes dividiam o cartaz com Triny Lopez e Sylvie Vartan, sem ter ficado claro qual era a atração principal, embora os Beatles tivessem fechado os dezoito shows(...). No meio de tudo isso, na volta ao hotel pela madrugada, um telegrama trazia a boa nova: nos Estados Unidos, o compacto "I wanna hold your hand" pulava do quadragésimo terceiro lugar para o primeiro nas paradas. Em três dias, vendeu 250 mil cópias; a 10 de janeiro tinha chegado a um milhão e no dia 13 vendia 10 mil cópias por hora, só na cidade de Nova York. era tudo que Brian [o empresário] e os rapazes precisavam para tomar de assalto a América.
No dia 6 de fevereiro, eles embarcavam no Boeing 707 da Pan American PA 101, o avião cheio de jornalistas e homens de negócios que assediavam Brian Epstein com propostas de marketing, merchandising e coisas mais para faturar em cima do sucesso dos Beatles. Na sexta-feira, 7 de fevereiro, os Beatles pousavam no Aeroporto Internacional de Nova York, recém-batizado de John F. Kennedy. A expectatica da chegada (THE BEATLES ARE COMING! era o grito de guerra) ultrapassava tudo o que Brian e os Beatles poderiam imaginar.
Uma agitada multidão de jovens aguradava no aeroporto. Ao contrário da bem-comportada coletiva antes do embarque em Heathrow, em Londres, um turba agressiva de repórteres e fotógrafos assediava os Beatles na sala de imprensa do aeroporto. Foi John que colocou ordem nos trabalhos com um sonoro Shaaaaaaarup!
- Que acharam da recepção? - perguntou um repórter.
- Então isto é a América - falou Ringo, encarando a plateia. - Parece todo mundo doido...
- Vão cortar o cabelo? (risos gerais)
- Acabei de cortar o meu ontem - disse John.
- Vocês fazem parte de uma rebelião social contra a geração mais velha?
- É uma mentira deslavada.
- E a campanha em Detroit para acabar com os Beatles?
- Estamos em campanha pra acabar com Detroit - disse Paul.
- O que é que vocês fazem quando estão ilhados nos quartos de hotel entre os shows?
- Fazemos patinação no gelo - respondeu George.
- Pretendem levar algo de volta com vocês?
- O Rockfeller Center.
- Que acham de Beethoven?
- Adoro ele - disse Ringo - especialmente seus poemas.
E por aí foi."


Um feliz 2010 para todos nós.


"O que acha que estará fazendo daqui a 20 anos?"
"Talvez tendo que responder a perguntas iguais a essa".

(Entrevista com Keith Richards, no filme "Shine a Light")

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

É Natal!!!

Então é Natal!!! Marginal Conservador confessa que fica mais sentimental e confiante na humanidade (só um pouquinho) nesta época do ano. É época de confraternização, renovar desejos de felicidade, reencontrar antigos amigos, parentes (e presentes) inesperados, comer rabanadas, pernil e tomar bons vinhos...Enfim, é época de esperança e união.

Desejo a todos que passaram por aqui um Feliz Natal. Como este blog é feito por um pai, fã da sétima arte, que adora levar o filho ao cinema, deixo com vocês um curta-metragem delicioso. Trata-se de "Uma missão de Natal", estrelado pelos adoráveis (e, de vez em quando, um pouquinho sádicos...rs) pínguins do filme "Madagascar" - decididamente meus personagens preferidos entre os bichos da série de desenhos animados.

Fica a lembrança de uma passagem de ano com muita paz e bom humor a todos nós. FELIZ NATAL!!!

domingo, 20 de dezembro de 2009

Viva Villa!!

Sábado, 19 de dezembro, 16 horas. Em toda a cidade do Rio de Janeiro uma multidão se esforça para realizar as últimas compras de Natal. Paro e reflito: o que faz um pai separado, que naquele dia exato se encontra com filho e afilhado, ávidos por diversão e aventura? Vai ao shopping? Não!!! Embrenha-se no Mercadão de Madureira ou ao Saara? Nem pensar - seria muita tortura para os pequenos. Uma dica preciosa surge no sábado pela manhã: o concerto "Villa in Concert", com a Orquestra Villa-Lobos e as Crianças, no belo espaço ao ar livre do Arquivo Nacional. Ali, jovens de várias comunidades cariocas se encontram para tocar e encantar a plateia com músicas para crianças compostas pelo maestro Heitor Villa-Lobos. Se valeu a pena? Bem, continue lendo.




Chegamos cedo ao local. Depois de uma manhã chuvosa na qual tudo parecia desandar, felizmente o sol se abriu no começo da tarde. Enquanto membros da orquestra afinavam os instrumentos e esperavam o público chegar, conferimos a exposição Viva Villa!, que contextualiza a vida e a obra de Heitor Villa Lobos, desde seu nascimento, no final do século XIX, até a morte. Objetos pessoais do maestro, partituras das Bachianas Brasileiras, uma reprodução fiel do ambiente de composição de Villa, está tudo lá. Chama a atenção um imenso mural com a foto de mais de 40 mil pessoas - estudantes, professores e músicos - no estádio de São Januário, sendo regidos num canto de coro orfeônico por Villa Lobos na década de 1940. Digo ao Arthur, meu filho, que aquele é o estádio do Vasco, o time do papai. Ele pergunta por que não foi no estádio do Fluminense, time pelo qual torce, e eu dou um sorriso. Explico que na época não havia nem o Maracanã, e o estádio do Vasco era então um dos maiores do Brasil. Villa sonhava em ver todas as crianças brasileiras aprendendo música nas escolas, e a notícia recente de que as aulas de música serão obrigatórias nos próximos anos é algo animador. Ouvir música é ótimo; conhecer música é ainda melhor.

Mas o que encanta mesmo os pequenos é o segundo segmento da exposição, intitulado "Trenzinho Caipira". Ali, numa adorável atmosfera lúdica, caminhamos por dentro de vagões cenográficos, ambientados a partir de passagens da vida do maestro. As crianças conferem as imagens projetadas pelas janelas do trem - como em pequenos cineminhas, somos brindados com cenas do universo musical do maestro e dos lugares em que eles esteve - Sertão, Paris, Brasil, Amazônia e Nova York. Villa era um cidadão do mundo, e as poltronas e projeções dos vagões daquele trenzinho adorável nos levaram, ainda que por alguns minutos, a embarcar nesta viagem.

Chega o grande momento. A Orquestra já está a postos. Meu filho quer água. O outro pede pra ir ao banheiro. Não dá pra ser depois? Correria. Mas dá tempo pra fazer tudo e ainda achar lugares vagos (azar de quem preferiu as compras de última hora...rs). As crianças ainda ganham pipas com a inscrição Viva Villa e ficam contentes.

À frente dos jovens, o maestro Sergio Barboza dá início aos trabalhos. Há ali crianças de São João de Meriti, Belford Roxo, Nova Iguaçu, São Gonçalo, Santa Tereza, Morro Dona Marta etc. Talentos que o Projeto Villa-Lobos foi buscar em toda a região metropolitana do Rio de Janeiro.

Ao longo da apresentação, diversos clásicos são levados ao público: "Cantar pra viver", "O Trenzinho do Caipira", "Pastorzinho-Bela Pastora", "O Cravo Brigou com a Rosa", "O Canto do Pajé" e muitas outras. O maestro alterna a regência com momentos em que conta à plateia histórias das composições e dos ritmos colhidos por Villa em suas andanças pelo Brasil. Somos brindados com baião, samba, frevo e até um pequeno momento de funk carioca em meio aos clássicos. Villa provou e sorveu de inúmeros ritmos populares brasileiros. Como o maestro conta, quando bem usados, todos os ritmos servem à fruição musical.

Enquanto os mais velhos ouvem respeitosamente as músicas (alguns, é verdade, viram crianças, batem palmas, cantam junto e pedem bis), as crianças menores - algumas, como é o caso do meu filho, afilhado e sobrinha, todos assistindo pela primeira vez a um concerto -, reagem entre a curiosidade, o encanto e a dispersão. Arthur, com 4 anos, faz perguntas sobre os instrumentos ("qual é aquele grandão no colo da garota, papai?", sobre o viooloncelo), assiste com atenção ao "Trenzinho", mas no meio do show já está correndo com a prima de 2 anos, Juju, nos arredores do belo jardim do Arquivo Nacional. O afilhado, com 8 anos, dispensa a correria e assiste até o fim.

No final, ainda sobra tempo para ouvirmos Pixinguinha, Guerra-Peixe e Tom Jobim. E o bis traz "Vassourinha" e "O Canto do Pajé".

Saímos satisfeitos e felizes do Arquivo Nacional, com a certeza de uma ótima tarde de dezembro. Foi a primeira vez que meu filho entrou em contato com a música de Villa Lobos, e fico contente. No carro, minha irmã pergunta a ele se gostou do concerto. "Gostei, mas gostei mais de correr com a Juju nos jardins!!"

Bem, pra uma primeira vez, tenho certeza de que valeu a pena. Arthur está sintonizado com a época. Realmente dezembro é um mês de correria, não é mesmo?

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Levante sua voz!

"Os seres humanos são animais mamíferos, bípedes, e que se distinguem dos outros mamíferos, como a baleia, ou bípedes, como a galinha, principalmente por duas características: o tele-encéfalo altamente desenvolvido e o polegar opositor"
(Ilha das Flores, o filme)

Em 1989, o público brasileiro conheceu um pequeno filme, que mostrava de forma irônica e por vezes ácida, o trajeto de um tomate, desde a plantação até o momento em que é jogado fora e é disputado por porcos e homens. "Ilha das Flores" era nome do filme e seu diretor, Jorge Furtado. O impacto foi enorme e em 1995 ele seria eleito pela crítica europeia como um dos 100 melhores curtas do século XX.

Recentemente, o cineasta Pedro Ekman repetiu a famosa estrutura documental de Ilha das Flores e "remontou" "Ilha das Flores", prestando uma homenagem ao já clássico curta-metragem. O resultado é o vídeo "Levante sua voz", produzido pelo Intervozes Coletivo Brasil de Comunicação Social. Agora a temática não é o destino de alimentos e a crítica à sociedade de consumo. Ekman toma emprestado a ironia e a acidez do filme de Jorge Furtado para criticar a concentração de poder pelos meios de comunicação no Brasil. Como este é um blog voltado principalmente para assuntos ligados à comunicação, vale (muito) a pena conferir o filme.

Não deixe de ver. Chame seus amigos, sua esposa ou namorada. Se tiver filhos adolescentes, faça com que assistam também. Enquanto políticos de Brasília andam às voltas com panetones superfaturados, mensalões e corrupção desenfreada, é importante saber os motivos pelos quais, muitas vezes, nossa voz de indignação simplesmente não se faz ouvir por quem deveria representar a opinião pública. Conscientize-se e levante sua voz!



sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

José Miguel Wisnik e Arthur Nestrovsky no Oi Futuro

Quarta-feira, 2 de dezembro. Dia do Samba. Corro às pressas para a rua 2 de dezembro (!), no Catete. O motivo: a aula-show de José Miguel Wisnik e Arthur Nestrovsky no Oi Futuro. Dois paulistas cujos sobrenomes europeus a princípio não revelariam uma intimidade com o ritmo carioca. Mas, felizmente, só a princípio.



A dupla de acadêmicos, com vários livros lançados sobre música, literatura, história, literatura infantil e afins podem tranquilamente ser considerados doutores em música popular brasileira. E o que é melhor, sem ranços herméticos ou estéticos. Lembro das excelentes palestras de Wisnik na FLIP, em, Paraty, sobre Guimarães Rosa e, mais adiante, sua facilidade em misturar a música na época de Machado de Assis com os sambas urbanos de Noel Rosa. Quanto a Nestrovsky, cuja obra de não-ficção eu já conhecia em parte, foi na mesma FLIP que comprei um belíssimo livro infantil - "Bichos que existem e bichos que não existem" - e presenteei o meu filho. Já conhecia os dotes pianísticos e de compositor de Wisnik, mas desconhecia, á época, que Arthur era também um craque no violão.

O show estava marcado para começar às 19:30h. Chego às 19h e sou avisado que só tem haverá lugar na fila de desistências. Por sorte sou o terceiro na fila. Há esperança.

Consegui o ingresso! às 19:45h, começa o evento no Oi Futuro - por que um teatro tão pequeno para dupla tão perfeita?, eu me pergunto. A dupla faz temporada carioca, mas não espere mega-espaços como Citybank Hall e Vivo Rio. A intimidade com o público é essencial num show deste nível.

Na quarta-feira, o primeiro show (serão dois)no Oi Futuro, o tema foi "Da música a letra", e os dois tocaram várias canções do Wisnik (com parceiros como Jorge Mautner, Luiz Tatit e outros) e alguns clássicos da MPB.

O interessante do show e seu charme é o conceito de aula-show: os músicos, intépretes e copmpositores não só cantam mas também explicam explicam o processo de composição de várias letras e músicas. Imperdível foi quando tocaram Nelson Cavaquinho - "Luz negra", "Juízo Final", "Folhas secas" e explicaram as melodias do mestre do samba. Deu pra ver que Wisnik venera o cara. Houve espaço para um samba exaltação a Sócrates (o jogador com nome de filósofo), considerações sobre "Pecado original", o samba-choro de Caetano inspirado em Nelson Rodrigues e sua última peça, "A serpente", um tango russo misturado com samba e até um momento sertanejo da "dupla caipira" Wisnik e Nestrovsky.

Enfim, um evento pra não se esquecer. Semana que vem tô lá de novo!!!