quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Lides imperdíveis: um artista do século XIX é o mais vendido em 2016

Preste atenção neste pequeno parágrafo, tirado diretamente do site da revista Bilboard. Traz um texto tão bem escrito e tão inquietante em apenas duas linhas que motivou a volta da seção "lides imperdíveis" deste blog:

The biggest-selling CD act of 2016 doesn't sing. He doesn't play guitar and doesn't tour. In fact, no one alive has ever seen him.

Traduzindo:

O maior vendedor de CDs de 2016 não canta. Ele não toca guitarra e não faz turnês. Na verdade, ninguém vivo jamais o viu. 

O autor em questão é Mozart, e trata-se de um box-set (caixa de CDs) que é precisamente uma peça de colecionador. Chama-se "Mozart 225" e foi lançada para comemorar o aniversário de 225 da morte do grande compositor clássico, um dos maiores da humanidade. O autor da matéria - o jornalista da Bilboard Lars Brandle - explica que entre o planejamento, a curadoria e o lançamento levaram-se 18 meses até  caixa ficar pronta. A caixa teve 6250 compradores. mas, levando-se em conta que cada uma traz 200 CDs (sim, 200 CDs!), e multiplicando-se por cada comprador dá 1,25 milhão de CDs vendidos. Está tudo do músico rigorosamente ali dentro. Há desde as primeiras sonatas do jovem Mozart até seus últimos réquiens antes da morte.  



São tempos diferentes para a música e para os formatos. Mozart morreu antes de conhecer os primeiros fonógrafos, depois as vitrolas, os primeiros discos de vinil e a consolidação da indústria fonográfica durante o século XX, algo que só seria suplantado pela chegada das mídias digitais, que trouxe o CD e mais tarde as faixas em MP3. Mesmo com a caixa luxuosa em primeiro lugar, o formato CD está em queda e sofre agora a concorrência não só do que seria o mais esperado - downloads ou streamings do ITunes ou Spotify - mas do aumento das vendas do disco de vinil. um formato que até pouco tempo era dado como morto aqui no Brasil mas que nunca deixou de vender lá fora. Semana passada, a seguinte nota saiu na Veja:  "Vinil - No Reino Unido, o valor das vendas dos discos superou o dos downloads de música, pela primeira vez, desde que os dois formatos disputam mercado."

Tudo isso é muito interessante e reflete as transformações na indústria, onde o novo agora tem que conviver com formatos antigos ou reprocessados (dia sim outro também vejo anúncios de aparelhos tocadores de vinis que "também gravam em mp3"). Mas, terminando a digressão e voltando ao que interessa a este post, por que o lide escolhido por ser considerável excelente?

Por que faz, com um mínimo de texto, aquilo que todo jornalista, ao começar a escrever uma matéria, deveria tentar: lançar uma frase marcante, atiçar sobremaneira a curiosidade do leitor de tal forma que para uma mente inquieta seja impossível não continuar a leitura.

Só por isso. Ponto para a Bilboard e para Brandle.  






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