Como vimos, o pseudônimo pode ser escolhido pelo próprio jornalista, assim como pode ser imposto por algum editor, ou também ser um recurso para enfrentar censores e adversários protegido por um nome fictício. Aqui mesmo na blogosfera, há uma infinidade de blogueiros que preferem escrever através de pseudônimos. Que o digam nomes como Gravataí Merengue, Nemo Nox e muitos outros.
Zózimo (nome de batismo) deu sorte de possuir um nome "diferente" e que servia para assinar uma coluna social. Já no teatro nomes "comuns" são bastante indesejáveis. Que o digam Ariclenes Venâncio (Lima Duarte), Antonio de Carvalho Barbosa (Tony Ramos) e Arlette Pinheiro da Silva (Fernanda Montenegro). Ou seja, o artista já começa a representar a partir do pseudônimo. Há exemplos também dentro da música popular, é óbvio. Para driblar os censores na época da ditadura militar, Chico Buarque criou a figura de Julinho da Adelaide, que passou a constar como "autor" de músicas em seus discos. Deu tão certo que até hoje há pessoas que confundem quem é quem. Já ouvi mais de uma vez locutoras dessas rádios FMs "adulto contemporâneo" anunciarem: "vocês acabaram de ouvir a música Jorge Maravilha, de Chico Buarque e Julinho da Adelaide"(!).
O uso de pseudônimos na esfera jornalística sem dúvida já rendeu muitas histórios curiosas. Uma delas foi contada recentemente por Luís Fernando Verissimo, em deliciosa crônica reminiscente de seus primeiros tempos dentro de um jornal ("Eu, repórter"). Segundo o cronista, no começo da carreira, quando faltavam artigos para a página de opinião do jornal Zero Hora, ele mesmo os escrevia, usando nomes fictícios: "Certa vez dois dos meus pseudõnimos polemizaram violentamente, pois tinham opiniões radicalmente opostas sobre determinado assunto. Eu também fazia um guia de bares e restaurantes da cidade e vez que outra inventava personalidades que os frequentavam (o conde italiano Ettore Fanfani, o empresário e bom vivant Aldo Gabarito) e davam seus palpites. Quer dizer, nada menos sério e mais longe da reportagem do que minha enclausurada atividade jornalística na época".
Outra história, ainda mais divertida. Em recente ciclo de debates sobre Jornalismo Literário no CCBB do Rio, com as presenças de Luiz Carlos Maciel e Matinas Suzuki, Maciel contou que nos anos 1960, na Bahia, ele, Glauber Rocha e João Ubaldo Ribeiro criaram Galileu, um personagem dado a escrever artigos opinativos e provocadores. Galileu (esqueci o sobrenome, mas como é fictício mesmo, vamos adiante) adorava polemizar com intelectuais baianos e até mesmo com outros articulistas do mesmo jornal. Para se ter uma ideia do clima de galhofa, uma vez, Glauber cismou em fazer uma citação do filósofo Hegel, em alemão. Único problema: nenhum dos três falava o idioma. Então, Glauber e Maciel perguntaram a Ubaldo se ele tinha algum livro, texto ou artigo escrito em alemão em casa. "Não tenho!". Disseram então que servia qualquer coisa. Depois de pensar um pouco, João Ubaldo disse:
- Até tenho algo escrito em alemão em casa. Mas é o Manual da Wolkswagen...
- Serve!!!, responderam juntos Glauber e Maciel.
Foi então que a Bahia acordou no dia seguinte com um artigo do polemista Galileu no qual, para variar, esculhambava com a intelectualidade local, citando "Hegel" - na verdade, trechos de um manual alemão ensinando como usar um fusca....
Perguntado se ninguém descobriu a galhofa, Maciel, rindo, disse apenas: "Acho que naquela época ninguém falava alemão na Bahia!"
Como vimos, todos aqueles que já usaram pseudônimos tem uma boa história pra contar. Qual a sua?
2 comentários:
Boa noite, Rogério Martins
Li alguns de seus artigos, e me apaixonei por sua forma singular de escrever.
Por isso, convido-o para que de forma colaborativa se torne um colunista em nosso singelo blog.
Caso haja interesse, gentileza entrar em contado através de nosso e-mail: jampawebjornal@gmail.com
https://jampawebjornal.blogspot.com.br
Respeitosamente,
Jorge Correia
Muito bom, Vou usar na defesa de um cliente meu, processado por usar um pseudônimo. As coisas já foram mais divertidas um dia.
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