quarta-feira, 10 de março de 2010

A devassa no comercial da Devassa

No último domingo, durante o programa Manhattan Connection, deu-se um curioso debate. Vamos a ele:

Lucas Mendes: Paris Hilton no centro de uma polêmica. Diogo, você acha que a proibição do comercial da cerveja Devassa abre um procedente?

Diogo Mainardi: Olha, não tenho a menor ideia; mas quem pode explicar melhor isso é o Ricardo, que nunca deu uma "paradinha" naquelas horas...

Ricardo Amorim: Respondo fácil. O procedente que se abriu é que haverá novas propagandas "ousadas". A Conar, ao proibir o comercial que já havia sido visto por 70 mil pessoas na internet, deu um tiro no pé. A essa hora o comercial já deve ter sido visto por mais de 1 milhão de pessoas.

Caio Blinder: O comercial é boçal e a proibição também foi boçal. A que ponto chegamos: a única inocente no episódio é a própria Paris Hilton. Chegamos num ponto de elogiar a Paris Hilton...

Pra quem não leu os jornais nem conferiu o Youtube semana passada (não, não vou linkar aqui o anúncio censurado não...), o papo entre os debatedores do Manhattan era sobre a proibição, pela Conar, do anúncio da cerveja Devassa, estrelado pela americana Paris Hilton. Precedido por uma campanha publicitária em que um homem, à maneira do filme "Janela Indiscreta", observa do prédio em frente com uma luneta o striptease de uma mulher loura (seria Paris ou uma dublê de corpo?), o anúncio veiculado após o preview não mostrou ser mais do que um amontoado de subclichês eróticos, com uma trilha sonora também clichê e tendo Paris Hilton - sinônimo internacional de mulher "devassa" -, como estrela.

Se o Conar ficasse quieto, talvez a propaganda passasse em brancas nuvens. Mas proibiu sua veiculação. Comenta-se que os marqueteiros da Devassa, irritadíssimos com o veto, teriam feito no mesmo dia um brainstorm para mudar o nome da cerveja e contratar outra garota-propaganda, já que tinham gastado aos tubos com a herdeira do conglomerado de hotéis Hilton. O nome "Devassa" teria que ser mudado por outro mais comum. Como já há a concorrente "Leviana", pensaram em "Vadia", depois "Vagabunda" e quase esta última ideia foi em frente, mas alguém salientou que dificilmente alguém se animaria a beber uma cerveja vagabunda..."Devassa", pelo menos, era mais chique e um nome mais "sofisticado".

Só que no dia seguinte à proibição lá estava o link para o vídeo em uma infinidade de sites da internet, até naquele mais "sérios", que ajudaram na mídia espontânea, fazendo do comercial um campeão de vizualizações. Pior para o Conar. Como disse o Ricardo Amorim, espera-se em breve novas campanhas de cervejas e outros produtos "ousados" o suficiente para que sejam proibidos e no dia seguinte virem campeã de audiência.

Sempre antenado, Verissimo notou em sua coluna no Globo a contradição de nossos censores no Brasil, que não deram a mínima para um comercial de cerveja em que o jogador Ronaldo aparecia sorridente , se proclamando "brahmeiro", enquanto proíbem a comercial chimfrim da Devassa. Ora, enquanto Ronaldo engorda e cai de produção a olhos vistos (não se sabe se sua barriga avantajada tem relação com o fato de ele ser "brahmeiro") e a torcida do Flamengo discute os problemas de alcoolismo de seu principal jogador, Adriano, jogadores que deveriam dar o exemplo são tolerados em propagandas de bebida alcoólica. Americanas supostamente devassas não.

Enquanto isso, a "única inocente" na história, a essa hora já está nos Estados Unidos curtindo a grana alta que certamente ganhou aqui nos trópicos. Bem, se somente para "marcar presença" no Sambódromo durante os desfiles de Carnaval a moçoila recebeu R$500 mil, imagino que a peça publicitária tenha chegado perto...

Paris Hilton é uma daquelas celebridades que se tornaram famosas unicamente pela sua notoriedade. É péssima atriz e cantora medíocre. Também é desconhecido qualquer talento inato da moça para outra coisa que não seja aparecer nos tablóides americanos pagando mico ou nas revistas de fofocas brasileiras, também "marcando presença". Sua imagem internacional de devassa pode ser creditada ao vídeo que vazou na internet há alguns anos, onde ela transava com o ex-namorado (as más-línguas juram que ela postou o vídeo da transa de propósito, mas ela nunca admitiu; tampouco negou). Aliás, quem acompanhou a saudosa série Sex & the city deve lembrar-se de um episódio com uma hilária cena, inspirada em Paris Hilton, em que a ninfomaníaca Samantha deixa vazar propositalmente na internet uma transa dela com o namorado mais novo.

Em outros tempos, Paris seria apenas mais uma das garotas loucas pela fama que há no mundo, com o empurrãozinho da fortuna da qual é herdeira - ou vocês acham mesmo que se ela fosse uma devassa sem um tostão estaria em capas de revista? Na cultura das celebridades, o mérito próprio é apenas mais um detalhe para alcançar a fama. Muitas vezes este detalhe nem é considerado.

E, no Brasil, esta cultura pode fazer de celebridades famosas pela notoriedade ícones a favor liberdade de expressão. Como, involuntariamente, Paris Hilton e sua campanha publicitária proibida.

Mas...me perdoe, Caio Blinder, mas não vai ser hoje que eu vou elogiar a Paris Hilton. Talvez outra hora, ok? Outra hora.



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