Há um ou dois anos atrás, no fim da tarde, eu estava vindo de Ipanema num micro-ônibus que iria fazer a ligação com o metrô em Copacabana. Na chegada em Copa, o motorista avisou da baldeação e, simpático, desejou um "Feliz Dia da Mulher" à todas as meninas, moças e senhoras dentro do veículo. Elas adoraram e algumas agradeceram ao descer. Deu pra notar a satisfação que muitas carregavam em seus semblantes, orgulhosas de um dia do ano só para elas.
Durante todo o dia de hoje, jornais, rádios, televisões e sites estiveram lembrando desta data. Muitos requentam matérias antigas e continuam mostrando que, apesar de todos os avanços na sociedade, as mulheres continuam ganhando menos que os homens. A sociedade mudou e as mulheres - que ótimo! - estão muito mais independentes, mas em diversas partes do mundo elas continuam sendo subjugadas por regimes opressores e autoritários. Na verdade, por regimes que as temem.
Não quero me perder e correr o risoco de repetir clichês, mas a verdade é que sem as mulheres este seria um mundo muito mais brutalizado e sem poesia. São elas que trazem um mínimo de delicadeza ao nosso tão ordinário cotidiano. Só por isso, merecem comemorar sempre o Dia Internacional da Mulher. Os homens com um mínimo de sensibilidade reconhecem isso. Assim como o motorista do ônibus, que - em meio ao discurso ensaiado aos passageiros repetido mecanicamente todos os dias -, encontrou uma maneira original de lhes dirigir umas poucas palavras de afeto.
Pensei em algumas canções que as retrataram tão bem na música popular e escolhi uma do Lenine, "Todas elas juntas num só ser". Ao retratar as mulheres que se tornaram personagens marcantes na história da música popular brasileira e intternacional, o artista conseguiu homenagear todas as mulheres.
Transcrevo abaixo parte da imensa letra, com um link para ela inteira. Este post também vai para as minhas cinco seguidoras, todas mulheres, que eu não conheço, mas me fazem ter vontade de continuar escrevendo aqui.
Todas elas juntas num só ser
(Lenine/Carlos Rennó)
Não canto mais Babete nem Domingas
Nem Xica, nem Tereza, de Benjor;
Nem Drão, nem Flora, do baiano Gil;
Nem Ana, nem Luiza, do maior;
Já não homenageio Januária;
Joana, Ana, Bárbara, de Chico;
Nem Yoko, a nipônica de Lennon;
Nem a Cabocla, de Tinoco e do Tonico;
Nem a Tigreza, nem a Vera Gata;
Nem a Branquinha de Caetano;
Nem mesmo a linda flor de Luiz Gonzaga;
Rosinha, do sertão pernambucano;
Nem Risoflora, a flor de chico Science;
Nenhuma continua nos meus planos.
Nem Kátia Flávia, de Fausto Fawcet;
Nem Anna Júlia do Los Hermanos.
Só você
Hoje eu canto só você
Só você
Hoje eu quero, porque eu quero, por querer
Não canto de Melô peróla negra;
De Brow e Herbert, uma brasileira,
De Ari, nem a baiana nem Maria;
Nem a Iaiá, também, nem minha faceira;
De Dorival, nem Dora nem Marina;
Nem a morena de Itapoã;
Divina garota de Ipanema;
Nem Iracema, de Adoniram.
De Jackson do Pandeiro, nem Cremilda;
De Michael Jackson, nem a Billie Jean;
De Jimi Hendrix, nem a doce Angel;
Nem Angela nem Lígia, de Jobim.
Nem Lia, Lily Braun nem Beatriz;
Das doze deusas de Edu e Chico;
Até das trinta Leilas de Donato;
E de Layla, de Clapton, eu abdico.
Só você
Canto e toco só você
Só você,
Que nem você ninguém mais pode haver.
(Continua...)
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