Segunda-feira, após a vitória do Brasil sobre a seleção do Chile, o técnico Dunga, como é de praxe após os jogos, compareceu à entrevista coletiva para a imprensa. Ao contrário da semana passada, quando soltou impropérios contra o jornalista da TV Globo Alex Escobar, além de ruminar palavrões que foram captados pelo áudio da Sportv, nosso técnico estava agora, aparentemente, bem mais tranquilo. Melhor assim. Depois de uma semana em que sua (má) relação com a imprensa foi discutida em todos os meios de comunicação, ensejando até um pedido formal de desculpas do técnico - aos torcedores, não à imprensa, bem entendido -, é bom esperarmos um técnico de melhor humor nas próximas entrevistas.
Enquanto o pedido formal de desculpas não foi dado, matérias em jornais, rádios e TVs foram quase unânimes em reclamar da atitude do técnico. Falo "quase" porque houve gente que gostou muito do comportamento de Dunga, dentre eles muitos que elogiam a quebra de um suposto privilégio da TV Globo na cobertura de eventos esportivos.
Esse "privilégio" não ocorreria apenas em eventos esportivos, mas em quase todos os temas que geram grandes coberturas. Quem companha este blog pode reler post semelhante que deixei aqui há mais de um ano. Apesar de editoriais da Globo falarem em "busca incessante da notícia" para justificarem as "exclusivas" que o jornalismo global quase sempre consegue, jornalistas que trabalham em emissoras rivais alegam que muitas vezes ocorre um direcionamento nas coberturas jornalísticas que acaba favorecendo a emisora líder de audiência no país.
Jornalistas que apoiam Dunga comentam a tentativa de Fátiam Bernardes e do repórter Tino Marcos em conseguir uma reportagem exclusiva com o técnico e jogadores da seleção brasileira. Atitude que, mesmo depois de a apresentadora e jornalista argumentar ter sido negociada entre o jornalista Renato Maurício Prado (do Sportv e do jornal O Globo) e o presidente da CBF Renato Teixeira, teria levado Dunga a responder: "Aqui não tem essa de entrevista exclusiva. Ou a gente fala para todas as emissoras de TV ou não fala para nenhuma".
Após esta história ter se multiplicado na internet, a Globo lançou uma nota dizendo que nada daquilo acontecera, e o tal diálogo seria na verdade apenas uma mensagem viral contra a emissora.
Quem está com a razão - Dunga com seus treinamentos fechados à imprensa, ou jornalistas da Globo e também de outras emissoras que reclamam do pouco acesso à seleção brasileira de futebol?
A questão é um tanto complexa. Não é preciso ser um expert em futebol para saber que Dunga - famoso por seu estilo disciplinador desde sua fase como jogador - fora chamado por Ricardo Teixeira para assumir a seleção justamente para evitar o oba oba que fora a estadia brasileira na Copa da Alemanha, em 2006, quando os jogadores posavam de celebridades, alguns se apresentaram fora de forma (como Ronaldo e Adriano) e não perdiam uma festinha de embalo nas nights germânicas. O acesso da imprensa era irrestrito e dona Fátima Bernardes chegou a fazer entrevistas "exclusivas" nos próprios quartos dos jogadores. Agora em 2010, Dunga só estaria colocando a coisa nos eixos novamente. Ou seja, disciplina e ordem sob a subordinação de um técnico linha dura desprovido de carisma.
Por outro lado, Dunga exagera ao limitar exageradamente as entrevistas com a equipe, ao realizar diversos treinos secretos (até contra a Coreia do Norte!!) e seu comportamento entre o sarcástico e o mal-humorado nas entrevistas. Se o problema é com a Globo apenas, por que o técnico não deixa claro logo, ao invés de "peitar" o Escobar na coletiva após a vitória?
Ainda sobre as entrevistas/reportagens exclusivas. Quem lida com jornalismo sabe também que a busca por exclusivas não é só da TV Globo. A notícia exclusiva, quando cabe um fato novo que ninguém ainda noticiou, revela-se um furo de reportagem, ou seja, tudo aqulilo que os jornais, rádios, TVs e agora o jornalismo online buscam para furar a concorrência. Notícias exclusivas, então, não são e não deveriam ser privilégio de grandes emissoras. Ainda mais agora com a ascensão cada vez maior das novas mídias, quando algo totalmente novo pode ser leado ao conhecimento de todosa por um blogueiro ou qualquer um com conta no twitter. A grande imprensa não tem mais o predomínio de ser a primeira a noticiar tudo.
O problema, então, não seria a notícia exclusiva, mas sim a alegada insistência nos supostos privilégios que a emissora - por ser a mais poderosa do país - é acusada.
Dunga tem todo o direito de preferir uma coletiva com todas as emissoras a falar com apenas uma. Mas ele poderia também dar a entrevista à repórter da Globo, desde que fizesse o mesmo com jornalistas da Band, Record e outras emissoras. Ao repórter mais competente caberia a responsabilidade e a competência pelo furo.
Nada contra exclusivas, portanto. e tudo contra privilégios, sob quaisquer circustâncias. Para que haja bom jornalismo, é necessário que as oportunidades sejam iguais para todos.
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